Por que as projeções do PIB oscilam tanto?

O porcentual de crescimento do país para esse ano — se nos basearmos nas projeções dos órgãos — é quase um enigma: dependendo do órgão, o país deve crescer entre 0,70 (Ipea) e 0,20% (FMI) – ficando com uma média de 0,49%. Recentemente, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles declarou que o Brasil crescerá 2,7% em 2017 (projeção realizada antes da atual crise que atinge o governo). Um horizonte bastante otimista, de acordo com especialistas, e ainda abaixo do avanço mundial: de acordo com o Fundo Monetário Internacional, o resto do mundo deve avançar 3% em suas economias.

“É normal os órgãos de governos serem otimistas. Afinal, eles são os condutores das reformas. Acreditamos que o ministro está equivocado na precisão dos números. Partilhamos, com o Ministério, da opinião que teremos crescimento. Entretanto, divergimos nas grandezas. Não acreditamos na capacidade do governo de implementar medidas como elas deveriam ser implementadas. E o governo alimenta nossa descrença quando, por exemplo, permite que categorias de trabalhadores ganhem ‘vantagens’ na reforma previdenciária em função de pressão”, analisa o membro do Comitê Macroeconômico do ISAE — Escola de Negócios, Christian Frederico da Cunha Bundt.

Desde março, os especialistas do comitê, formado por professores da instituição, economistas e executivos de grandes empresas, realiza semanalmente uma análise de oito dados divulgados pela Pesquisa Focus, do Banco Central: PIB, Produção Industrial, Inflação-IPCA, Taxa Selic, Dívida Líquida do Setor Público, Taxa de Câmbio, Balança Comercial e Investimento Direto no País.

De acordo com Christian, o crescimento em 2017 no Brasil deve ser estável “possivelmente próximo do zero, frente à incapacidade do governo implantar reformas que despertem confiança nos consumidores, nos empresários, executivos e empreendedores”, fala. O que influencia diretamente na expectativa de crescimento do PIB, já que as informações analisadas (indicadores e opiniões de analistas e órgãos) chegam ao provável porcentual. No Paraná, a estimativa é de crescimento de 1,5%. Influência das commodities, indústria automobilística e boa safra e produtividade do agronegócio são alguns fatores, de acordo com o especialista, que contribuem para o avanço no estado.

Para o ano que vem, segundo o especialista, qualquer previsão ainda é prematura. “Acredito que se ocorrer a implantação das reformas trabalhista e previdenciária, teremos melhor definido o cenário das previsões”. Porém, na atual conjuntura, o cenário é incerto, já que a economia brasileira, segundo Christian, é bastante impactada pela política partidária.

Retomada

Para alavancar o crescimento, Christian fala que os movimentos dos governos federal e estadual devem ser “rápidos”, com ações para diminuição do tamanho da máquina estatal, fomento aos negócios (financiamento com taxas atraentes). “ E aí decorreria o consumo e o emprego e, consequentemente o virtuosismo da renda pelo trabalho. O consumo lastreado na renda vinda do trabalho é um dos melhores, senão o único, meio de crescimento sustentável”, completa.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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