Informais utilizam zona azul para vender produtos

Ambulantes (10)

Pedro Augusto

Uma celeuma tendo como foco principal o uso supostamente inadequado da zona azul de Caruaru ganhou corpo, esta semana, quando a redação do Jornal VANGUARDA contabilizou algumas reclamações provenientes de populares que se mostraram incomodados com as utilizações destes tipos de espaços por parte de vários comerciantes informais. De acordo com os denunciantes, não é de hoje que ambulantes vêm ocupando vagas na zona referente à Rua 15 de Novembro, no Centro, para vender as suas mercadorias, que vão de alimentos a bijuterias. Com receio de retaliações, sem exceção, todos os reclamantes preferiram ficar no anonimato, mas não deixaram de tecer as suas críticas quanto à prática.

Segundo uma servidora pública, que costuma usar frequentemente as vagas daquele local, de uns tempos para cá o número de comerciantes que vêm atuando por lá tem crescido a passos largos. “Acho que é essa onda de desemprego que também vem afetando bastante o mercado econômico de Caruaru. Ou seja, mais pessoas têm sido obrigadas a tentarem vender os seus produtos naquela zona azul devido à falta de oportunidades. Não sou contrária à atitude deles, mas fico me questionando se a prática é legal, haja vista que se trata de um estacionamento rotativo, que, na teoria, deveria ser utilizado por, no máximo, duas horas. Pelo menos é o que destaca as placas das próprias zonas. Se estiver errada, me corrijam.”

Para um professor de Educação Física, que também optou em não ter o seu nome revelado, apesar de pagarem pelas vagas ocupadas, os ambulantes não têm deixado de gerar transtornos para a população. “O assunto é delicado, porque procuramos entender as situações desses informais. Enquanto uns já vêm operando no local já há bastante tempo, outros vêm tomando o exemplo dos mesmos e se instalado cada vez mais naquele espaço. Para eles é bom, porque a 15 de Novembro é bastante movimentada e acaba atraindo milhares de clientes. Mas para nós, motoristas, que precisamos também daquelas vagas para exercermos as nossas atividades, sejam comerciais ou não, a prática tem causado prejuízos. São sempre espaços a menos e que não podemos contar.”

Outro reclamante que não quis informar o nome, mas se apresentou como autônomo, chegou a questionar a suposta morosidade por parte da Destra para resolver o problema. “Não tenho como provar, mas tenho certeza que deve haver um arrumadinho desses comerciantes com o pessoal que registra os bilhetes da zona azul. Deve rolar um lanche ou outro tipo de agrado para compensar a permanência deles nesse estacionamento público. Duvido que eles pagam todos os dias por essas vagas. O problema permanece escancarado em pleno centro da cidade, mas a autarquia não tem tomado nenhuma providência. Depois não me venham falar de mobilidade.”

Em deslocamento até o local, na manhã da última terça-feira (23), a reportagem VANGUARDA acabou ouvindo duas operadoras de emissões de bilhetes. A primeira, identificada como Evelen Carvalho, disse não haver reclamações sobre tal prática. “Pelo menos para mim, nunca ninguém reclamou.”

Já a outra, que preferiu não ter o nome revelado, ressaltou o acompanhamento rígido em relação à utilização das vagas. “Aqui não tem essa de agrado não, porque todos os espaços da zona azul de Caruaru são fiscalizados. Ou seja, quem ocupa a vaga destinada a este tipo de estacionamento precisa pagar, senão pode sofrer punições. Esses informais têm permanecido, sim, na zona da 15 de Novembro, mas têm pagado a cada duas horas utilizadas.”

No outro lado da moeda, os ambulantes ouvidos pelo Jornal VANGUARDA procuraram se defender dos questionamentos, apontando as suas justificativas. Esse foi o caso de Alana Soares, que atua no espaço há mais de cinco anos. “Vendo as minhas bijuterias por aqui desde antes da implantação da zona azul e nunca deixei de pagar pela vaga utilizada. Engraçado é que as reclamações se referiram apenas a nós informais, que tiramos daqui o nosso pão de cada dia. Agora, ninguém questionou que a maioria dos lojistas da Rua 15 de Novembro estaciona os seus automóveis nesse mesmo local, ou seja, também tiram as vagas dos demais motoristas e não são errados por isso. É brincadeira!”

Diferentemente de Alana, Severino da Silva vem utilizando uma das vagas da zona azul da Rua 15 de Novembro há pouco tempo. Desempregado, ele tem depositado as suas poucas fichas na comercialização no local. “Trabalhava como pedreiro em uma construtora de renome, mas como as obras diminuíram bastante, acabei sendo dispensado. Para não ficar em casa, só vendo o tempo passar, venho comercializando esses jarros por aqui pelo menos duas vezes por semana. Sei que não está correto ficar parado com o meu carro por tanto tempo, haja vista que outras pessoas também precisam usar os espaços, mas, meu amigo, do jeito que as coisas andam, não estou enxergando outra saída. O pior é que tem dia que não tenho conseguido vender nada, aí é que complica ainda mais, porque tenho que desembolsar pelo menos R$ 15 de zona azul”, afirmou.

Destra se posiciona sobre o assunto

Com o objetivo de saber se a Destra está ciente a respeito do problema, a reportagem VANGUARDA entrevistou, na manhã da última quarta-feira (24), na sede da autarquia, no Bairro Maurício de Nassau, o diretor-presidente Hermes de Melo. Em suma, ele confirmou que o órgão se encontra imbuído de encontrar uma solução para tal demanda, juntamente com a empresa responsável pela fiscalização e a emissão de bilhetes do sistema zona azul de Caruaru, a Sertell.

“Ressaltamos, inicialmente, que a zona azul é administrada pela Sertell. Quando verificada a prática de irregularidades, esta última nos informa e tomamos as providências cabíveis. O aplicativo dessa empresa permite que os tíquetes sejam renovados a cada duas horas, mas, conforme delimita as placas do sistema, o estacionamento da zona azul é para ser rotativo. Então, precisamos avançar nas discussões sobre o sistema para aperfeiçoá-lo”, comentou.

Também consultado pelo semanário, o representante da Sertell, Sérgio Muller, destacou que já foram iniciadas as conversações para resolver tal entrave. “Primeiro, ressaltamos aqui que as fiscalizações da zona azul são realizadas diariamente e de forma intensificada. Explicamos ainda que não podemos deixar de comercializar os bilhetes para quem necessita e, na medida em que observamos alguma irregularidade, entramos em contato com a Destra para que os veículos sejam removidos. Em reuniões, ficamos de providenciar as ações necessárias para solucionar essa situação”, reforçou.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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