A responsabilidade do eleitor não se esgota após o voto

Por Bruno Martins

Os políticos ao serem eleitos pela população, quase sempre após a posse, iniciam uma fase de cometimento de erros e falhas, que por sua vez terminam por causar frustações, desânimos e arrependimentos nos eleitores.
No entanto, esse cidadão e eleitor está tendo mais consciência de que não existirá as mudanças que a sociedade requer, fora do ambiente político.

E aqui, apresento um recorte conceitual, para afirmar que quando trato da política, reafirmo o seu sentido e conceito mais nobre, direcionada para a articulação de ideias, para o diálogo com a sociedade, a política voltada a participação popular, ao compartilhamento de decisões, que possam alterar a vida em grupo ou sociedade, a política enquanto instrumento emancipatório. Esse é o sentido da política.

De outro modo, é comum ouvirmos das pessoas com um certo tom de rancor a frase mais elementar: odeio a política; tenho raiva dos políticos.

Se observarmos bem atentamente para essa frase, iremos perceber que, o senso comum coloca todo e qualquer político na vala comum dos malfeitores da política brasileira.

Os ambientes públicos ou privados de conversas e debates, tem demonstrado a decepção e o cansaço do cidadão e da cidadã brasileira com a política a cada notícia de escândalo que envolve o desvio ou mau uso do dinheiro público, apresentando um quadro geral de descrença e desilusão.

Uma grande e significativa parcela da população, seja em âmbito local ou regional, tem demonstrado a descrença na política e nos políticos. Essa descrença, pode ser facilmente comprovada nos altos índices de abstenção, votos brancos e votos nulos, nas eleições de 2018.
Notícias de Caixa 2 (dois) envolvendo candidaturas a cargos do alto parlamento, partidos e candidatos se utilizando de instrumentos nefastos, na tentativa de burlar a legislação eleitoral, impedir a fiscalização do dinheiro público aplicado nas campanhas, são alguns dos elementos que fazem aumentar o desinteresse pela política.

Existem ainda aqueles políticos, que construíram sua plataforma de campanha em nome da ética, da moralidade e que, após denúncias ou investigações é possível constatar que esses estão envolvidos em escândalos de corrupção eleitoral ou administrativa, perpassando para a sociedade, a mensagem de que são apenas novos (enganadores) realizando as escondidas, os velhos hábitos de corrupção.

Em tese, o político candidato que durante a campanha eleitoral comete atos de corrupção eleitoral, o cometerá também quando estiver no exercício do mandato, causando danos imensuráveis a política, ao patrimônio público, a democracia e a sociedade.
Logo, não podemos esquecer que os políticos e a política são em certa escala o reflexo dos hábitos e costumes da sociedade. Nos países onde as democracias são mais livres, ativas e transparentes, os políticos são mais fiscalizados nas suas ações e, os escândalos de corrupção e mau uso do dinheiro público são quase inexistentes.

Em contrapartida, nos países que as democracias sofrem limitações na sua liberdade e transparência, os políticos são poucos acompanhados e fiscalizados pela sociedade. Daí uma frase faz todo o sentido: a responsabilidade do cidadão com a eleição não se esgota logo após o momento do voto. Pelo contrário, essa obrigação permanecerá durante o período do mandato a quem se escolheu por via do voto.

Quando a sociedade se envolve e participa, podemos considerar que nem tudo está perdido.

Quando o cidadão eleitor fiscaliza e acompanha as ações do político, o qual confiou o voto durante um período determinado, surge assim, uma faísca de esperança para a transformação positiva da política.
A sociedade precisa entender que, os políticos são meros representantes da vontade de grupos e organismos da sociedade. Cada voto, representa a vontade expressa do tipo de cidade, estado e país que queremos.

A boa ou má qualidade da política, depende sempre da qualidade dos políticos que elegemos a cada período eleitoral. Os valores que estes representam, a forma de agir no trato com quem lhe deve subordinação, as propostas que defendem na vida política e pessoal, são alguns dos requisitos que merecem observação do eleitor, antes, durante e principalmente após as eleições.

Está e permanecer, na defesa da boa, honesta e legítima política, não pode ser confundindo com a defesa dos políticos e dos seus mandatos, quando não estão direcionados para o bem da sociedade.
Representa, estarmos ativos e atentos para retirar da política, aqueles que no exercício do mandato se utilizaram da estrutura e do dinheiro público, como se fosse algo extensivo a sua vida particular e a dos seus familiares.

Ultimamente, a política e boa parte dos políticos, andam dissociados de valores éticos e morais, que são fundamentais para os bons costumes e as boas práticas em sociedade.

Com as notícias de desemprego, violência, miséria, corrupção, catástrofes ambientais e descuido com o patrimônio público, não nos parece fazer muito sentido tratar de política como instrumento capaz de transformar as nossas vidas para algo melhor.

E nesse momento de desesperança só resta uma saída para a sociedade, participar mais ativamente do universo da política, exigindo daqueles que foram eleitos em outubro de 2018, transparência, eficiência, ética e zelo com a coisa pública, respeito as diferenças, defesa da boa política, que esteja voltada para atender as demandas e anseios de toda a sociedade.

Bruno Martins, advogado eleitoral. Presidente do Instituto Caruaru de Direito Eleitoral. Ex-Consultor Jurídico Geral da Câmara Municipal de Caruaru.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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