Acusado de matar jornalista Marcolino Júnior será julgado na quarta (21)

Pedro Augusto- Jornal Vanuarda

As cadeiras da Sala do Júri do Fórum de Justiça Demóstenes Batista Veras, no Bairro Universitário, em Caruaru, deverão estar lotadas a partir das 9h da próxima quarta-feira (21). Isso porque, no horário e na data, a juíza auxiliar da Vara do Júri, Priscila Vasconcelos Areal Cabral Farias Patriota, dará início à sessão de julgamento tendo como réu Rafael Leite da Silva, de 32 anos. Para quem não recorda mais deste último nome, trata-se do acusado de ter assassinado a sangue frio, no dia 16 de abril de 2016, em um motel da cidade, o jornalista e colunista social Marcolino Junior, de 46 anos. Para se ter ideia, devido à grande repercussão do caso – em nível nacional -, a Justiça está tendo de fazer o credenciamento das pessoas que desejam acompanhar o julgamento.

Em grande parte, nos demais julgamentos realizados na Sala do Júri, o volume de tribunas disponível acaba não sendo todo preenchido. Os sentimentos das pessoas que irão acompanhar a sessão mais aguardada do ano na Capital do Agreste não poderiam ser outros a não ser os de ansiedade, curiosidade e desejo de Justiça, haja vista tamanha brutalidade conforme Marcolino foi morto. Segundo as denúncias do inquérito da Polícia Civil, que foram recebidas e acatadas pelo Ministério Público de Pernambucano, o jornalista e colunista do VANGUARDA foi morto com facadas no pescoço após ter recebido um golpe de jiu-jítsu aplicado por Rafael.

Preso na Penitenciária Juiz Plácido de Souza, em Caruaru, desde o dia 18 de abril do ano passado, Rafael Leite teve a sua sentença de pronúncia divulgada – quando há a ratificação ou não de que o acusado irá para Júri – no último dia 24 de fevereiro. De acordo com as informações da secretaria da Vara do Júri, que foram repassadas na manhã da quarta-feira (14), o suposto comparsa de Rafael, Davi Fernando Ferreira Graciano, de 22 anos, ainda não teve a sua sentença de pronúncia anunciada, haja vista que ainda restam alguns elementos a serem apresentados no tocante ao seu processo judicial. Vale destacar que os processos de ambos os acusados foram desmembrados.

Atualmente, Davi, que foi apontado pela polícia como o mentor do assassinato, encontra-se levando uma vida normal com trabalho fixo e gozando do apoio da família. Para o seu advogado, José Cordeiro, ele nem irá para julgamento. “Como já foi dito em entrevistas anteriores, ainda não existem provas suficientes que indiquem que o meu cliente tenha tido qualquer participação na morte do Marcolino. Nossas alegações finais ainda não foram apresentadas, assim como da assistente da acusação. Tão logo esse processo seja encerrado, a juíza irá pronunciar se ele irá ou não a Júri. Apesar de estar solto e trabalhando, o Davi vem tendo acompanhamento psicológico e tomando remédios, porque sempre fica abalado, quando o assunto se refere ao Marcolino.”

Também procurado pela reportagem, o advogado de Rafael Leite, Cláudio Sales, se mostrou confiante quanto à absolvição de seu cliente. “Não existe nenhuma prova cabal que o Rafael esteve naquela data no motel com o Marcolino. Uma pessoa seria muito burra ou ignorante para cometer um crime e, no dia seguinte, se dirigir até a Rua Visconde de Inhaúma, no Bairro Maurício de Nassau, para oferecer o automóvel da vítima. Se cometeu algum crime foi o de receptação. Inocentemente aceitou a proposta do Davi de receber R$ 1 mil pela venda do veículo. A polícia precisa apurar esse caso mais afundo, porque existe a possibilidade de uma terceira pessoa estar envolvida. O Rafael é inocente no que diz respeito à execução do jornalista, tanto que estamos confiantes na sua absolvição.”

Com o objetivo de ouvir o outro lado da moeda, ou seja, o promotor Antônio Rolemberg Freitas Júnior, que defenderá a condenação de Rafael, a reportagem VANGUARDA tentou entrevistá-lo também na manhã da última quarta-feira, mas ele se encontrava atuando numa sessão também na Sala do Júri.

Como dita a tradição de grandes casos a serem julgados, a expectativa é de que a sessão referente ao acusado Rafael Leite ocorra durante todo o dia da próxima quarta com a possibilidade de ainda se estender para a madrugada seguinte.

RELEMBRE O CASO

Bastante conhecido na região, o jornalista Marcolino Junior e de nome de batismo Antônio Marcolino Barros Filho, perdeu a vida no dia 16 de abril do ano passado. Seu corpo só foi localizado dois dias depois numa mata do distrito de Insurreição, na zona rural de Sairé, no Agreste do Estado. Em paralelo à localização do corpo, a Polícia Civil conseguiu prender, também no dia 18 de abril, os dois acusados de terem participação na morte do jornalista.

Davi foi preso quando prestava solidariedade à mãe do jornalista, no Bairro São Francisco, já Rafael acabou sendo autuado em flagrante no momento em que oferecia o automóvel da vítima numa concessionária, no Bairro Maurício de Nassau.

De acordo com as investigações do titular da 20ª Delegacia de Caruaru, Márcio Cruz, que participou de várias coletivas de imprensa na época, o colunista do VANGUARDA teria sido vítima de latrocínio (assalto seguido de morte). “O Davi trabalhava e era a pessoa de confiança do Marcolino. Apuramos que ele se sentia injustiçado por conta da suposta má remuneração a que lhe era repassada semanalmente pelo colunista. Além disso, possuía interesse em se beneficiar de alguma forma dos bens e das quantias em dinheiro os quais a vítima possuía. Por isso, planejou o crime de forma antecipada contando com a participação do Rafael”, disse o delegado.

Marcolino, conforme constatou a perícia do IC, foi morto num motel localizado na Vila Kennedy, também em Caruaru. “Câmeras de videomonitoramento captaram quando ele chegou até o local juntamente com o Rafael. Lá, Rafael aplicou um golpe de jiu-jítsu e desferiu em seguida os golpes de faca peixeira no pescoço da vítima. Para atrair o colunista até o motel, o acusado contou com a intermediação do Davi. Assim como suspeitávamos, o corpo de Marcolino foi colocado mesmo no porta-malas de seu carro. O cadáver foi levado pelo próprio Rafael até o distrito de Insurreição”, finalizou Márcio Cruz.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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