Os preços das carnes dispararam nos últimos meses, mas consumidores têm reparado que não apenas os cortes mais valorizados subiram de preço. Carnes de segunda a quinta categoria — “carne de ossos”, como carcaça temperada, pé de galinha e pescoço —, passaram a ter uma procura maior e, consequentemente, também ficaram mais caras.
Porém, não há dados em pesquisas nacionais sobre esses cortes. A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), disse que não tem informações detalhadas, e a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mede a inflação oficial, se restringe a carnes de primeira e de segunda, ou ao produto como um todo, no caso de frango e porco.
De acordo com os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a alta acumulada no preço da carne bovina chegou a 25% nos 12 meses entre outubro de 2020 e setembro último. O frango encareceu até mais nesse período: 29%.
“Desde de que os preços começaram a aumentar muito, comecei a buscar as opções mais em conta, pois meu salário começou a não ser suficiente para pagar as contas e fazer as compras do mês”, disse Lucas da Silva, 30 anos, consultor de vendas.
Ele ressalta que, a cada mês, a situação piora. “Os preços estão aumentando, mas os salários não. Aonde vamos chegar? A situação está difícil. Eu e minha família passamos o mês passado comendo apenas ovo. Neste mês, acredito que vai acontecer o mesmo”, disse Lucas.
Para Maria de Fátima Silva, 57 anos, dona de casa, fazer compras do mês é desmotivador. “Percebi uma diferença em todos os itens de alimentação. Todavia, a carne foi o item que mais subiu de preço. Comprar carnes de segunda ou cortes de outras partes dos animais estava sendo a solução. Quem imaginaria que o pescoço de galinha sairia por R$ 20 o quilo?”, questiona. “Hoje em dia, consigo comprar apenas o essencial, o que já fica muito caro para três pessoas”, diz ela, que mora com os dois filhos.
Desempregada, a dona de casa vê as dificuldades aumentarem ainda mais. “Perdi o emprego devido a um problema que tive na coluna. Meus filhos resolveram pagar as contas para eu não me esforçar mais. Como eu fazia serviços gerais, não consegui me aposentar”, conta. “Apenas meus filhos têm renda e sustentam a casa.”
A assessora pessoal Ângela Teodoro, 35, também reclama. “Antigamente, eu gastava entre R$ 300 e R$ 400 para uma compra farta na minha casa, incluindo coisas supérfluas. Hoje, está difícil comprar o básico por esse valor”, declarou.
Ângela ressalta que, com a carestia, começou a consumir carnes de segunda categoria. “Porém, com esses aumentos, vou ter que passar para os ovos, porque, mesmo sendo apenas eu e meu marido em casa, está complicado. Eu penso nas pessoas desempregadas, elas não têm saída”, afirmou.
Correio Braziliense