Por meio de nota oficial, divulgada na tarde de ontem (20), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) confirmou que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, que seria realizado em novembro deste ano, foi adiado. A decisão foi comemorada por alunos e professores pernambucanos, que temiam o impacto da pandemia do novo coronavírus nos resultados obtidos na principal prova do país, responsável pelo ingresso dos estudantes de ensino médio em universidades.
Ouvindo os pedidos de diversas instituições educacionais, uma nova data será escolhida entre 30 e 60 dias após a que estava prevista nos editais. As inscrições também foram ampliadas e poderão ser feitas até o dia 22 de maio. “Sempre fomos unânimes pelo adiamento. Quem é educador deve ter sensibilidade social e empatia pelos estudantes. Mudar a data é o mínimo, seria um absurdo manter o calendário quando os alunos não estão tendo as mesmas condições de ensino. Escolas particulares conseguiram, depois de muito esforço, entrar no universo online, mas muitas escolas públicas não conseguem passar seus conteúdos remotamente”, diz o diretor do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de Pernambuco e diretor pedagógico do Colégio DOM, Arnaldo Mendonça.
“Eu achei ótimo. Disponibilizamos aulas e materiais online, mas sabemos que muitos dos nossos alunos não tem boa qualidade de conexão. Chegávamos a arriscar nossas vidas saindo das nossas casas para deixar conteúdo para eles na escola e eles, por sua vez, também se colocavam em risco para ir buscar. Vencemos uma batalha”, comenta a professora Mariza Hermes, que leciona matemática na Escola de Referência Mariano Teixeira. Karin Vitória, de 16 anos, é uma das alunas de Mariza e também é favorável a mudança de calendário. “Graças a Deus consigo assistir aulas online, meus professores ficam disponíveis e faço cursinho, mas sei de muitos colegas de escolas públicas que não têm a mesma oportunidade. Estou segura quanto ao conteúdo, mas o sentimento é de angústia pelo o que está por vir”, diz a aluna que tentará medicina.
Assim como Karin, Giovanna Arcoverde também concorrerá pelo curso em Saúde. Aluna do Santa Maria, a aluna diz que a nova data ajudou a acalmar um pouco a ansiedade. “Achei bastante respeitosa a decisão de adiar a prova. O processo do vestibular não é fácil para ninguém e esse distanciamento social complica ainda mais. Temos que levar em consideração que somos seres humanos e, desta maneira, somos sociáveis. A falta de contato com outras pessoas mexe muito com o nosso psicológico e com o nosso emocional, que deve estar em equilíbrio para a prova”, diz a aluna de 17 anos.
Professores e alunos do Colégio Dom acreditam na qualidade do ensino que está sendo oferecido online, mas também veem o Enem deste ano como um desafio. “No nosso colégio já tínhamos algumas aulas remotas, mas agora toda a grade deve ser passada deste modo, ainda não sabemos o que esperar como resultados”, diz o coordenador pedagógico Genildo Júnior. “A decisão não é somente benéfica como necessária. A preparação online é diferente, são aulas menos interativas e mais rápidas. Um processo que exige muito mais concentração dos alunos, que não possuem mais intervalos ou contatos com os outros estudantes”, aponta José Vitor de Carvalho, de 16 anos, que tentará Enem para Ciência da Computação.
Do piloto ao celular
Se esse é um momento novo para os alunos, para os docentes exigiu ainda mais a reinvenção. “As aulas online são complicadas, foi uma mudança que teve de ser feita de forma muito rápida. No momento estou concedendo entrevista com meu filho de um ano no braço, após terminar uma aula, e continuo atendendo alunos pela internet. O momento exige estas medidas, mas nada é melhor para um aluno do que o olho no olho e a interação em sala. Onde recebem mais atenção de professores e colegas”, comenta o professor de inglês do Colégio Fazer Crescer, Kerley Muniz. “A mudança de data gerou alívio. As aulas remotas não são a mesma coisa, confesso que estava na torcida para que essa decisão saísse. Queremos mais tempo de aula presencial para preparar nossos alunos”, diz Amenaide Pessoa, coordenadora do Ensino Médio da mesma instituição.
Em 26 anos lecionando no colégio Santa Maria, o professor de química e coordenador das turmas ITA-IME Robson Villar nunca enfrentou dificuldade parecida, mas ainda acredita que o momento é de esperança, mesmo em meio às dificuldades. “Essa é uma situação ímpar. As mudanças são usualmente acompanhadas de expectativas e incertezas, mas devemos procurar tirar o melhor possível delas. Com o adiamento ganharemos um pouco mais de tempo para atendermos os alunos e assim qualificá-los ainda mais para enfrentar o ENEM”, comenta. “É preciso não desanimar. A vitória é um precioso bem que pertence àqueles que nela acreditam por mais tempo. Esse momento difícil que estamos vivendo irá passar.”
Dicas para uma boa prova
O diretor geral do Motivo, Sérgio Ribeiro, acredita que a sala de aula já não é o único ambiente de aprendizagem e separou algumas dicas para que os alunos que farão Enem neste ano fiquem mais tranquilos durante o exame.
Dicas para uma boa rotina de estudos:
•Planeje-se e tenha uma rotina de estudos
•Defina um local de estudos
•Crie uma agenda e um roteiro para o estudo dos conteúdos
•Faça anotações e tire dúvidas
•Treine a redação
•Mantenha-se sempre atualizado
•Cuide da saúde: faça pausas, alimente-se bem, pratique atividades físicas e busque relaxar e dormir bem.
Durante os estudos, é importante:
•Refazer provas. Após um exercício de auto percepção, refazer vestibulares de anos anteriores pode ser uma forma de se aproximar ainda mais desse universo. É importante se testar simulando as questões dessas avaliações.
•Identificar os erros. Ter consciência quanto as questões em que não houve êxito é um dos primeiros passos para que o aluno possa definir uma “trajetória para se fortalecer naquilo que ele identificou sendo o seu gap”.
•Fazer um planejamento em consonância com a matriz de avaliação. Ao definir quais processos seletivos irá se submeter, o jovem deve entrar em contato com a matriz que constitui cada vestibular. “Normalmente a matriz de conteúdo daquela avaliação dá pistas de como aquela prova se organiza. Se é uma prova mais analítica, por exemplo”.
Diario de Pernambuco