Leonardo Milane*
Se pudéssemos voltar no tempo, mais especificamente durante o período de fevereiro a abril de 2020 (o auge da crise e do stress dos mercados), nem o investidor mais otimista diria que 2020 se encerraria da maneira como desenrolou: o Ibovespa na máxima histórica (depois de uma queda de aproximadamente 50% no pior momento do ano!); o dólar recuou dos R$/US$ dos 6,00 para 5,20; e os indicadores econômicos foram se recuperando rapidamente durante o segundo semestre. Adicione a tudo isso a extensão do bilionário pacote de auxilio aprovado pelo governo americano, portanto mais fôlego para maior economia do mundo continuar se recuperando; e os recentes dados da economia chinesa, que apontam para um PIB positivo nesse ano.
E se voltássemos no tempo para outros períodos da história, observaríamos que o mercado se comportou exatamente da mesma maneira: como um pêndulo que oscila entre o excesso de otimismo e o excesso de pessimismo. Em determinados momentos, esse pêndulo perdura mais tempo em um dos dois extremos, mas cedo ou tarde acaba cedendo para o lado oposto.
Diversas teorias de finanças e macroeconomia explicam esse comportamento: regressão a média; excesso de liquidez a juros muito baixos, por muitos anos seguidos; efeito manada e loss aversion, dentre outros. Mais importante do que as teorias, é a arte de como gerir nossos investimentos na prática, tanto em 2021, como ao longo de todos os próximos anos. E isso envolve 3 princípios fundamentais:
Disciplina: definir uma estratégia de investimentos, implementá-la e decidir manter ou alterar a estratégia em vigor de acordo com os resultados obtidos. Lembrando que investimento não é aventura, nem um grande casino. Perca pequeno (perder 50% do seu patrimônio implica em ter que ganhar 100% para retornar ao patamar original!), e ganhe grande. Se sua estratégia não está calibrada para esse princípio, ela está errada; e quem não realiza pequenos prejuízos (vender um ativo com prejuízo) não entende que não existe estratégia infalível. Se exististe, as profissões de economista, assessor de investimentos, gestor de fundos e analista de investimentos não existiriam.
Diversificação: não estou falando apenas do clichê “não coloque todos os ovos na mesma cesta”. Estou falando em ter uma parte relevante do seu patrimônio dolarizada, pelo menos 20%, investindo em ativos do exterior. Esqueça essa questão do melhor timing para comprar dólar, porque ninguém tem essa reposta. A dinâmica fiscal brasileira é, até o momento, um problema sem solução. Além disso, em todos as crises da história recente, o dólar subiu fortemente. Esses dois pontos já são suficientes para dolarizar uma bela parcela do seu patrimônio. De lambuja, você vai gerar renda em dólar (legal nunca mais ter que se preocupar em deixar de viajar para fora do país por que o dólar subiu muito?);
Confiar em alguém que seja especialista nos dois princípios acima: idealmente alguém que vai acompanhar você e seus investimentos durante toda vida, e conheça muito bem seu perfil de risco, necessidade de liquidez e detalhes da sucessão patrimonial da sua família. Não digo ser impossível, mas acredito que seja muito difícil alguém que não respira o mundo dos investimentos ser um investidor eficiente atuando 100% sozinho. Mesmo raciocínio vale para quando um economista, administrador, assessor de investimentos etc…precisa de um médico, dentista ou advogado. Um especialista de muita qualidade técnica e de confiança faz toda diferença. E 2020 está aí para não me deixar mentir: o investir despreparado, que atual no impulso, zerou sua carteira no auge da crise e/ou deixou de comprar e aumentar a posição quando os ativos ficaram muito baratos.
Voltando ao final do primeiro parágrafo, é inegável que os mercados estejam precificando boas perspectivas para a economia brasileira e nossos investimentos durante 2021. Caso contrário, o Ibovespa, o câmbio e a curva de juros não estariam dando sinais tão positivos nos últimos 60 dias. Num piscar de olhos, o mercado esqueceu da sinuca de bico que nos encontramos em relação a necessidade de aprovação das Reformas para conter a trajetória exponencial da dívida pública, da eleição da Câmara em fevereiro e do impacto econômico negativo que a demora em vacinar a população trará. Parece que o mercado está absurdamente confiante em relação ao futuro….alguém já ouviu falar na “teoria do pêndulo”?
Torço para que os mercados estejam certos, e o pêndulo permaneça no “território otimista” durante 2021. Nem por isso deixarei de seguir à risca os 3 princípios colocados acima, hoje, ano que vem, e para sempre. Afinal de contas, aonde estava o pêndulo em dezembro de 2019, bem antes da crise de 2020 explodir?