O futuro do Brasil depende de uma indústria pujante, e o debate eleitoral não pode fugir a essa realidade. A recente política anti-Covid implementada pela China já atinge duramente a oferta de suprimentos da indústria brasileira, sobretudo em segmentos fundamentais como o farmacêutico, o que demonstra de forma inequívoca a necessidade de rearticularmos nossas cadeias produtivas, de modo a reduzir a dependência de insumos importados. Esse movimento revela a urgência do Brasil em relançar sua indústria, que sempre foi sinônimo de desenvolvimento. É importante rememorar que foi no período de maior industrialização do País que alcançamos recordes no crescimento da renda per-capita e nos tornamos a mais expressiva plataforma manufatureira da América Latina, produzindo praticamente todos os produtos existentes nos países avançados.
As décadas que se seguiram após os anos 80, porém, mostram um período de desindustrialização precoce que também culmina com baixo crescimento econômico e estagnação da produtividade. Sem uma indústria forte, perdemos capacidade de inovar, de gerar empregos mais qualificados e melhor remunerados e de multiplicar o crescimento em função do encadeamento produtivo. Não se trata de reeditar as políticas do passado, mas de adotar uma estratégia industrial a exemplo de outros países, inclusive economias desenvolvidas.
Em parceria com o setor privado, é preciso criar competências para adensar e disseminar na economia os ganhos oriundos dos setores industriais de maior desenvolvimento tecnológico e gerar uma maior integração e diversificação nas cadeias de suprimentos. Nesse sentido, é preciso combinar elementos de uma agenda nova que envolva uma política específica para ingressarmos na indústria 4.0, a chamada economia digital; aproveitar as oportunidades para reestruturar os segmentos econômicos voltados para uma economia de baixo carbono; modernizar e ampliar o parque fabril com aumento dos investimentos e melhorar o perfil da nossa balança comercial; com crescimento da exportação de manufaturados e redução da importação de insumos, sobretudo aqueles vinculados aos setores de maior intensidade tecnológica.
Por outro lado, temos que remover obstáculos antigos, traduzidos no Custo Brasil, que representa 21% do PIB. A expressão mais marcante desse peso é o nosso caótico e disfuncional sistema tributário, que precisa urgentemente ser reformado e alinhado às melhores práticas internacionais. Esses são nossos desafios.
*Armando Monteiro Neto, ex-Senador e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior