Por João Américo de Freitas
Lula e o PT já não assustam mais ninguém. Desde a redemocratização Lula foi durante mais de 30 anos, a figura mais importante da esquerda brasileira. Sua força hercúlea fez mover multidões e eleger legiões de filiados e aliados do PT, transformando o partido e o nome Lula da Silva em uma máquina imbatível, do ponto de vista eleitoral.
Nas eleições municipais deste ano, o PT encolheu em votos, prefeitos e vereadores, mesmo gastando 200 milhões do fundo eleitoral. Da eleição de 2020, podemos concluir que o PT e Lula saem menores, derrotados e com um horizonte de desolação a médio e longo prazo. O caso mais emblemático do fracasso do PT ocorreu em São Paulo. Pela primeira vez, desde 1988, um candidato do Partido dos Trabalhadores não fica em primeiro ou segundo nas eleições, além disso, o desempenho do candidato do PT, Tatto, deixou muito a desejar: ele obteve apenas 8,55% dos votos.
A falta de estratégia do PT, em São Paulo, em não escolher um nome conhecido e competitivo, projetou o nome de Guilherme Boulos, que adotou um tom mais moderado e se cacifa a ser o grande nome da esquerda, apesar de derrotado nas urnas.
Com o fracasso nas eleições de 2020, Lula e o PT são um escombro barulhento para o projeto político de 2022. Sem renovação em método, pautas e diálogos, o PT e Lula propõem o mais do mesmo, uma oposição sistemática, virulenta contra Bolsonaro, com base no velho tripé de sustentação eleitoral: movimentos sociais, sindicatos e movimentos de base da igreja.
O PT começa a perder o protagonismo como opositor natural do Presidente Bolsonaro e do seu movimento nacional, o “Bolsonarismo”, que também foi rejeitado em todo o país, como método político eficiente. A luta “antibolsonaro” é a mesma de outros atores políticos nacionalmente importantes, tais como: Ciro, Doria, PSOL e até partidos de centro direita, como o DEM e o PSDB.
O PT e Lula deixaram claro, nessa eleição, que não são mais a encarnação dos projetos da esquerda, e perdem a voz dos diversos movimentos que dão sustentação à esquerda no país. Deve ficar claro, porém que a eleição municipal possui vicissitudes, dimensões, idiossincrasia e particularidades que não podem ser automaticamente exportadas para o plano nacional. Para se ter uma ideia, é só voltar no tempo, quando, nas eleições de 2000, dois anos antes da primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, o PT teve desempenho parecido com o atual.
Mas o que chama a atenção nessas eleições é o fato de o PT não eleger um único prefeito em capitais, o que pode ser considerado um desastre avassalador para os projetos futuros de Lula e de seu partido.
Sem reformulação no horizonte, o PT pode amargar mais uma derrota em 2022. A esquerda necessita, com certo senso de urgência, de construir uma aliança em torno de ideias e valores e não em torno de um nome, o que, provavelmente, não irá ocorrer.
E um verso de uma música atemporal de Belchior, imortalizada na voz inesquecível de Elis Regina, pode retratar o atual momento de Lula e do PT:
“Mas é você que ama o passado
E que não vê
É você que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem”
João Américo de Freitas é advogado e comentarista político da Caruaru FM