ARTIGO: Ainda Não Acabou

Por Maurício Assuero

O ano de 2015 está valendo por toda a década de 1980. Estamos chegando no último trimestre do ano de uma forma sofrida, arrastada, extremamente dolorida. Na música A Triste Partida (Patativa do Assaré) cantada por Luiz Gonzaga, o nordestino fica “pensando na barra do alegre Natal” e a situação não deixa de ser diferente da economia brasileira e não apenas do sofrido povo nordestino que acreditou que o Bolsa Família era suficiente para sustentar a família. Em outras épocas, no mês de setembro já víamos o movimento das lojas na direção de captar parcela do décimo terceiro dos trabalhadores e víamos, também, as expectativas de alguns com os empregos temporários; víamos, finalmente, o planejamento das pessoas no sentido de como aplicar o décimo terceiro: fazer compras, quitar dívidas, investir um pouco, etc.

Estamos em setembro e tudo isso passa por nós num silêncio ensurdecedor. Parece que estamos numa ilha de pessoas mortas onde alguns poucos que velam só são capazes de emitir, em intervalos de tempos desiguais, um lamento languido ou a nota mais dissonante do uirapuru que só canta ao amanhecer, uns 15 dias por ano, quando constrói o ninho para atrair a fêmea. Depois, só silêncio!

Incrível pensar que este sofrimento imposto a uma população, quase que inteira, tenha sido fruto da sanha de alguns que não sabem o que é depender de um emprego, de uma renda. Incrível imaginar que alguns retiram de muitos o direito à educação e à saúde. Incrível pensar que ao invés do “alegre Natal” no qual se celebra o nascimento de Cristo, a gente tenha que celebrar outra “Paixão” não apenas do mesmo Cristo, mas de um dos cristos que precisam comprar remédio, pagar escola do filho, pagar plano de saúde, pagar aluguel. Enquanto isso, todos aqueles envolvidos neste lamaçal imoral que inunda o Brasil, buscam meios jurídicos para escaparem da prestação de contas com a justiça.

O fatiamento da operação Lava Jato é um indício de que tudo não passou de um equívoco. Tudo indica que os nobres membros da Corte Suprema chegarão a conclusão de que não houve desvio; que a culpa é do coitado do “contador” que não contabilizou recursos no tempo hábil. Se isto ocorrer, então certamente ficará estampado que temos, de fato, uma justiça que pune o pobre com o rigor da lei e que alisa o poderoso com luva de pelica. Acaba aplaudindo a maestria das velhas raposas e o Brasil.. bem o Brasil, pode conviver com taxa de desemprego alta, com queda no produto de 2,7% e com inflação cheirando 10% ao ano. Afinal, a culpa será sempre do pobre mesmo.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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