ARTIGO — Alta do dólar

Maurício Assuero

É sabido que a variação do dólar está associada, também, a questão de risco. Ano passado, com a proximidade da eleição e uma possível vitória de Fernando Haddad no segundo turno, o dólar mostrou tendência de alta, mas depois caiu e ficou no patamar de R$ 3,80. Um ano depois, o dólar atinge R$ 4,20 e assusta. Agora, até que ponto isso assusta? Nós devemos nos preocupar mesmo? Vejamos os seguintes pontos.

Há um ano, US$ 1,00 comprava R$ 3,80 aqui no Brasil e hoje com o mesmo dólar pode ser comprado R$ 4,20. Então, sob esse ponto de vista a economia brasileira vai agradecer porque aumentando a exportação, vai aumentar a produção interna e isso vai gerar emprego e a geração de emprego vai aumentar da demanda interna. Já defendi aqui que a saída para o crescimento econômico era através das exportações líquidas e vou dizer novamente: O PIB de qualquer país é dado por PIB = C + I + G + NX, onde C é consumo, I é investimento, G é gasto do governo e NX representa exportações líquidas. As três primeiras variáveis não conseguem impulsionar a economia, então restam as exportações. Que seja, então, uma alternativa.

A segunda questão sobre a alta do dólar é a redução de importações e dentre as quais a redução do turismo no exterior. De certo modo a indústria do turismo é favorecida porque atrai turistas estrangeiros (as praias do sul lotam com os argentinos) e o turista brasileiro também passa a curtir o Brasil, principalmente o nordeste.

O problema da alta do dólar são as empresas que utilizam matéria prima importada para sua produção. O aumento de custo dessas empresas é repassado para o nível de preços e pressiona a inflação. Por esse motivo, as estimativas de inflação de 2019 passaram de 3,19% para 3,34% ao ano. A pressão sobre a inflação virá também do nível baixo da taxa de juros de modo que é prudente o governo adotar medidas para que este cenário não permaneça por muito tempo. O ministro Paulo Guedes disse “é bom se acostumar com juros baixos e câmbio alto” e o mercado entendeu que isso significava mudanças na política econômica. Deveria ter explicado melhor estas palavras.

Finalmente, a gente se pergunta pelos motivos dessa alta e certamente o resultado do leilão do pré-sal tem uma participação importante nisso. Primeiro porque os ativos não foram arrematados, fato que produziriam uma alta na Bolsa bastante expressiva, e depois como não houve arremate, faltou a entrada de dólar foi menor do que esperada, logo as reservas do governo, que servem para investimentos, por exemplo, ficaram abaixo e o governo não teve como intervir no mercado. O problema, não é a alta do dólar, mas o tempo em que ele vai permanecer nesse patamar.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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