Por Maurício Assuero
A divulgação da alteração da meta fiscal para R$ 159 bilhões de déficit demonstrou, friamente, a realidade da economia brasileira porque vai obrigar o próximo presidente a trabalhar com as contas negativas, visto que até 2022 não teremos condições de falar em superávit. Essa informação está posta e ponto final. O pior é cada anúncio do governo, a população fica mais preocupada e mais convencida de que não há muito a esperar. É como a espera pela chuva que angustia o sertanejo.
O último anúncio do governo foi a redução de 60 mil cargos dentre os quais datilógrafos (alguém com 20 anos de idade já viu uma máquina de datilografia?), radiotelegrafista (com a tecnologia atual de redes sociais, internet, alguém ainda manda telegrama?), perfurador digitador (cartão perfurado era uma forma de programar computadores, por volta dos anos 1980). Enfim: dá gosto saber que o governo ainda contrata pessoas para estas áreas. Diga-se que são cargos vagos e por isso,não se sabe quanto será economizado com suas extinções.
O bom mesmo da proposta do governo é o tratamento em relação ao trabalhador. Primeiro, reduziu R$ 10 do salário mínimo aprovado uma semana antes. Segundo vai aumentar a contribuição previdenciária de 11% para 14%. Mas, isso ainda é pouco: os funcionários públicos ficarão sem aumento. Haverá alterações nas regras das progressões e no estágio probabatório (período de 36 meses no qual o funcionário é avaliado pelo desempenho). O governo entendeu que falta uma greve geral dos funcionários públicos para coroar o extraordinário êxito do seu governo.
Esse saco de maldades não foi pensado de um dia para outro. Temos as reformas. Temos a mudança das regras no mercado de trabalho. Temos a lei que autoriza terceirização na atividade fim e com isso adequado ao setor público não será mais necessário concurso público. O mais terrível é que as propostas não produzirão, no curto prazo, o efeito desejado e no longo prazo elas se mostrarão mais danosas para a população.
Diante de tudo isso, temos o comportamento do mercado. Aquietou-se pela simples identificação do esforço daequipe econômica. Meirelles tem sido o interlocutor ejá disse que tem interesse em ficar no governo independente de quem seja o presidente. Com isso, o mercado deixou de lado a preocupação com Temer, que pela falta de pulso não tem a menor capacidade de dizer não e quando diz, retroage. Então, a ideia é ficar de olho no que faz Meirelles. Investir no curto prazo é, por enquanto, mais saudável no que no longo porque a nuvem de incerteza é muito grande.