ARTIGO — Arrumando a casa

Maurício Assuero

Os sinais positivos do mercado dão a sensação de que vamos começar bem 2019. Mais uma vez, a Bolsa de Valores atingiu uma pontuação recorde, 94 mil pontos, e isso sugere que o otimismo está de volta de forma mais intensa. Na prática, ainda não se percebe mudanças substanciais porque o governo está arrumando a casa.

O processo é lento e começou com a substituição e diretores, de pessoas com cargos comissionados que foram indicados pelos governos anteriores. A Casa Civil, por exemplo, afastou 320 pessoas com cargos comissionados e vai recontratar aqueles que não estejam afinados com as ideias dos governos anteriores. A ótica é a seguinte: se foi colocado lá por Temer ou Dilma, tem uma possibilidade muito grande de ter feito campanha contra Bolsonaro e como o cargo é de confiança, nada mais simples do que substituir. Nesse contexto tivemos baixas no Ministério da Educação e na diretoria da Petrobras.

Isso tudo é pouco diante da necessidade do Brasil. A promessa de Paulo Guedes de trabalhar com pilares de organização fiscal e economia de mercado, para ser implantada dependerá das negociações com o Congresso. Nesse ponto reside a maior questão. Como isso será feito? Através de barganha política como acontecia no passado? Os deputados eleitos só tomarão posse em fevereiro, então até lá o governo não pode fazer muito a não ser elaborar planos.

O caso mais gritante é, sem sombra de dúvida, a reforma da previdência. Uma reforma mexe em fundamentos, mas o escopo geral acaba não sendo atendido plenamente. Por exemplo: fala-se de idade mínima. Mas, o tempo de contribuição também uma variável importante, principalmente num sistema capitalizado. De modo igual, o valor da contribuição porque ele serve de base para determinação do benefício a ser concedido. Aparentemente, retocar o interior não faz a casa ficar mais bela.

Um lado que preocupa bastante é a reação das pessoas. Se bem nos lembrarmos, quando Temer traçou sua proposta de emenda, até os deputados da sua base de apoio fugiram da raia. Eles não queriam vincular-seàquela proposta, principalmente num ano eleitoral. Agora, já se fala em eventual greve geral caso Bolsonaro envie a proposta para o Congresso. O lado cruel disso: as pessoas tenderão a não receber suas aposentadorias diante do déficit previdenciário. Mais ainda: após se aposentar, vamos procurar outra fonte de renda porque o benefício será insuficiente para atender nossas necessidades.

O governo pode até arrumar a casa nesse período, mas os cômodos que já foram trabalhados deveriam receber a visita da sociedade para uma conversa construtiva.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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