Por Edson Carli
Por mais que estudemos e pesquisemos o nosso passado como pessoas e como espécie, dificilmente encontraremos o momento exato da evolução onde se iniciaram os conceitos de profissão e carreira. Acredito que estas definições devam ter aparecido tão logo quando aconteceu a formação do primeiro bando ou tribo. Neste momento mágico e perdido na esteira do tempo, uma pessoa olhou para outra e ambos combinaram que cada um faria uma coisa em prol do objetivo final: a sobrevivência.
Veja por exemplo, ainda nos tempos primários de nossas sociedades. Uma pessoa que não caçava, mas era hábil o suficiente para tecer roupas era mantido no grupo com a caça de outros e em troca, oferecia roupas a todos. Da mesma forma, um guerreiro não construía sua casa, mas os demais construíam a casa para que os guerreiros ficassem no grupo em um processo constante de trocas que envolviam produtos e habilidades.
Dentro de um sistema social, mais cedo ou mais tarde, todos devemos exercer uma atividade que gere valor para o grupo e, feito isso, passamos a fazer parte como membros, recebendo bens e serviços em troca de nossas habilidades. Podemos assim compreender que o conceito de função, remuneração, carreira, tempo de trabalho e muitos outros temas que associamos à palavra carreira são mais antigos e enraizados em nossa existência do que podemos imaginar. Mas como escolher nosso lugar nesse mundo? Em que momento devemos ingressar nesse sistema produtivo?
De forma geral, nas sociedades livres e capitalistas, o ciclo de vida de um indivíduo passa pelas seguintes etapas: escolha da profissão (geralmente ao final do ensino médio), formação superior básica seja em universidades ou em cursos técnicos, entrada no mercado de trabalho formal, decisão de continuar nesse mercado ou empreender. Uma vez tomada a decisão de ficar no mercado de trabalho, ainda existem as opções da liderança ou a carreira de especialista, também conhecida como carreira em Y.
Desde a escolha da profissão existem desafios a serem superados. Um deles é o mito da vocação, onde considera-se que um jovem pode, a partir de suas características pessoais, emocionais e comportamentais, possuir uma tendência para determinada profissão. Feita a escolha, passado o período de aprendizagem e a entrada efetiva no ambiente de trabalho, este profissional se dá conta que tudo o que ele sabia sobre relações humanas não mais é capaz de ajudá-lo a progredir na carreira. Até então, o jovem profissional havia convivido com sua família e com o ambiente acadêmico, onde efetivamente o conceito de atividade remunerada não havia sido levado a sua mais completa tradução: todos somos produtos.
Quando desenvolvi os fundamentos do método CARMA, do inglês Career And Relationship Management, no ano de 2006, superar o mito da vocação não estava entre as metas primárias. O principal objetivo era conduzir os indivíduos na identificação de seus potencias enquanto “produtos” e desenvolver suas habilidades de auto condução de carreira.
Se todos somos produtos em um mercado que nos reconhece e valoriza nossa produção de valor para a sociedade, somos, de certa forma, empresas de um único indivíduo prestando serviço para as corporações onde trabalhamos. Não somos membros de uma nova família e nem tampouco, entramos para uma organização somente para aprendermos mais. Quanto mais rápido identificarmos que a relação entre nós e as empresas é uma relação comercial, mais fácil e simples fica atingirmos nossos objetivos pessoais e profissionais.
Assim, com o passar do tempo, nossa relação com a empresa chega a uma encruzilhada: seremos líderes e, portanto, teremos a responsabilidade por gerir a atuação e outras pessoas; ou seremos especialistas, tornando-se referência em nossas habilidades e conhecimento, desenvolvendo uma carreira em Y.
Para os profissionais que seguirão a carreira de liderança, desenvolvi no método C.A.R.M.A uma visão totalmente diferenciada e baseada no conceito francês de liderança natural, onde o profissional não pode ser simplesmente nomeado líder. Ele precisa ser reconhecido como tal por seu grupo. Novamente, busquei nas bases naturais e antropológicas uma formação de liderança que não fosse baseada em mando, em poder, mas sim em respeito, reputação e engajamento.
Finalmente, analisando a linha do tempo, assim como em todas as sociedades, chegará o momento da aposentadoria e do retorno do profissional para a vida comum, longe das organizações. Para este grupo de profissionais, o método CARMA apresenta um extenso conjunto de ferramentas, fortemente baseadas em PNL que reapresenta os protocolos sociais e “devolve” a pessoa à sociedade não profissional, à família, aos amigos e a ele mesmo.
Assim, o método representa um extenso conjunto de metodologias que capacita os participantes a gerenciar suas crenças, sua visão do mundo profissional e logicamente, seus relacionamentos para que possam atuar em um ambiente onde as profissões, as funções e as habilidades se misturam. Acima de tudo é preciso que o profissional desenvolva a autogestão e assuma o protagonismo de sua carreira – da escolha dela até o último dia de trabalho.