Por Paul Sullivan
O setor de construção civil enfrenta uma crise severa no Brasil. A rentabilidade do mercado caiu de 11%, em 2013, para 2% em 2014[1]. O setor prevê cerca de 480 mil demissões em 2015 e os lançamentos de novos empreendimentos recuaram 18% só no primeiro semestre do ano. A população, por sua vez, não está segura em investir na compra de seu imóvel. Com esse cenário fica evidente que o setor precisa se reinventar.
A questão é que grande parte das empresas de construção civil no Brasil utilizam os mesmos processos há, pelo menos, 30 anos. Dessa forma, é comum (e até esperado) que haja problemas durante a obra e, até posteriormente a mesma, quando são detectadas falhas de construção, muitas vezes com necessidade de refação e gastos desnecessários. Está mais que na hora que construtoras e escritórios de arquitetura revejam os processos de concepção e gestão ao planejar um novo empreendimento. Para isso, a tecnologia pode ser uma importante aliada.
Uma forma de repensar a gestão da obra é a implantação da metodologia Building Information Modeling – BIM. Com ela é possível prever, desde o projeto inicial, detalhes que podem impactar o cronograma de obra. Além disso, pode-se ter mais acuracidade quanto ao uso de materiais e mesmo os custos envolvidos, levando em conta desde detalhes de logística até o aproveitamento de mão de obra em campo.
Com esse processo, as empresas de construção e arquitetura podem ir além do projeto com ferramentas que proporcionam melhores resultados de negócios. É possível prever, desde a concepção inicial, os detalhes que podem afetar o cronograma de trabalho. Além disso, pode-se ter mais acuracidade quanto ao uso de materiais e mesmo dos custos envolvidos, levando em conta desde detalhes de logística até o aproveitamento de mão de obra em campo. Em essência, o BIM e o uso de tecnologia avançada permite tomar decisões melhores e mais rápidas.
Para implementar o BIM é importante primeiro investir em tecnologia e treinamento. É verdade que isso leva tempo, dinheiro e paciência, mas os ganhos provenientes do investimento podem ser realizados, tanto a curto quanto a longo prazo, por meio da competitividade, qualidade do trabalho e economia de custos. Alguns estudos apontam que o uso do BIM é capaz de gerar redução de 20% em tempo e dinheiro.
A adoção do BIM no Brasil não é uma novidade: algumas empresas já tem utilizado, porém poucas são as que utilizam em total capacidade. Geralmente, a tecnologia é aplicada durante a fase de desenvolvimento do projeto. Ainda assim, os resultados são significativos. Recentemente, a CCDI (Camargo Correa Desenvolvimento Imobiliário) foi além e levou o processo para o canteiro de obra por meio de tecnologia baseada na nuvem e assim passou a gerir a construção em campo.
Os funcionários envolvidos na construção precisam de acesso aos projetos e modelos a partir de qualquer dispositivo, sejam eles no escritório ou no local da obra. Modelos 3D com riqueza de dados criadas dentro de um fluxo de trabalho BIM estão cada vez mais sendo usados em canteiros de obras, em vez dos grandes rolos tradicionais de plantas. O uso de um modelo BIM em um canteiro de obras (por meio de um tablet) vai ajudar a CCDI e outras empresas para aumentar a precisão, reduzir o retrabalho e o custo, gerando mais sustentabilidade, segurança e produtividade.
Resultado: a empresa saiu na frente no que diz respeito ao uso de tecnologia para seus empreendimentos e com isso contornou questões que podiam impactar o projeto e controlar custo e cronograma com mais precisão. Com tanto êxito, a CCDI agora vai expandir o modelo de gestão de obra, utilizando o BIM, em outros empreendimentos.
É chegada realmente a hora de se reinventar. O cenário se abre para um campo mais competitivo, cuja performance será ainda mais cobrada. Investir em momento de crise não é fácil. Mas é uma porta importante a ser cruzada para que as construtoras e empresas de arquitetura ofereçam inovação e qualidade. Um exercício para entender a importância desse, que é, talvez, o primeiro passo para o futuro é pensar em como a construção será nos próximos 30 anos. Sem esquecer que o futuro está além da crise atual. Quem se reinventar mais rapidamente é quem ganhará mercado daqui para frente.