Por Gabriela Kopinits
Pouca gente sabe, mas neste dia 12 de outubro não se comemora apenas o Dia da Criança. É também o Dia Nacional da Leitura, efeméride criada pela Lei Federal nº 11.899 (de 08 de janeiro de 2009) com o objetivo de incentivar o interesse pela leitura em todo o Brasil. A iniciativa foi do senador Cristovam Buarque e sancionada pelo então presidente Lula. A ideia do senador foi aliar as comemorações em torno do Dia da Criança com o incentivo à leitura. “Além de marcar a festividade já consagrada do Dia da Criança, esse dia abrigará, também, o Dia Nacional da Leitura e a Semana da Leitura, com a intenção de enfatizar junto à sociedade brasileira a importância do cultivo do amor aos livros desde a infância”, justificou o senador.
Pouco divulgada e comemorada ainda muito timidamente por algumas escolas, a data ganha ainda maior importância se levarmos em consideração os resultados de pesquisas feitas para auferir como anda a leitura no Brasil. Os dados são estarrecedores e bastante preocupantes. Segundo o Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa, “apenas 8% das pessoas em idade de trabalhar são consideradas plenamente capazes de entender e se expressar por meio de letras e números”. Ou seja, de cada cem pessoas apenas oito podem ser consideradas proficientes – capazes de decodificar corretamente textos e gráficos e de resolver situações. As outras noventa e duas são o que se chama de ‘analfabetas funcionais’. Esse levantamento foi feito com 2.002 pessoas, entre 15 e 64 anos, moradoras de zonas urbanas e rurais de todas as regiões do país.
Outro levantamento importante foi o realizado pelo IBGE, através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. De acordo com a última pesquisa, divulgada há dois anos, 8,7% da população brasileira a partir de 15 anos não sabe ler nem escrever. Isso quer dizer que são cerca de treze milhões de analfabetos.
Se considerarmos que, no Brasil, a população acima de 15 anos é de 86 milhões, podemos afirmar que apenas 6 milhões de pessoas conseguem efetivamente entender o mundo à sua volta e fazer suas escolhas de forma consciente. Somos 206 milhões de habitantes, segundo o IBGE. Faça as contas e se assombre, como eu. Não é à toa que o país está como está. Precisamos de mais educação, precisamos de mais leitura e de mais compreensão de textos.
O indiano Kailash Satyarthi, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2014 (e ativista pelo fim do trabalho infantil e escravo e pelo direito à educação), disse uma frase que traduz perfeitamente o que acontece com o nosso Brasil: “Percebi que a escravidão humana e o analfabetismo são dois lados da mesma moeda”. Podemos dizer que a miséria também. Ele citou o caso de uma menina indiana que morreu aos 14 anos de tuberculose desenvolvida pelo trabalho insalubre numa fábrica de tijolos. O pai dela não conseguiu nem assinar a certidão de óbito. Aos prantos, o pobre homem disse que se soubesse ler e escrever, a filha não teria morrido, pois ele nunca teria assinado o contrato de trabalho dela. “O pai da jovem se referia ao momento em que assinou o contrato de trabalho com sua digital. Se ele tivesse conseguido ler o documento, ele saberia que o trabalho era perpétuo e que ele e sua família nunca poderiam deixar aquele lugar”, contou Kailashi.
Não há outra fórmula para o desenvolvimento em todos os níveis a não ser a educação. A educação liberta, nos dá direito de fazer escolhas, e é um direito constitucional, “fundamental e essencial para o exercício de todos os direitos”, defende a Unesco. E a leitura tem papel preponderante nesse processo. Incentivá-la, principalmente entre os pequenos, é obrigação de todos nós, quer sejamos educadores, pais, gestores ou apenas integrantes de uma sociedade que quer um país melhor para todos. No Dia da Criança, em vez de brinquedo, dê um livro. O ganho para a criança – e para o nosso país – será muito maior. Vamos fazer do Brasil uma pátria de leitores!