Artigo: Empoderar para Transformar

Por Daniel Finizola 

Basta dar uma olhada nos noticiários para ver que as instituições políticas no Brasil passam pela maior crise desde a redemocratização. Internamente, as estruturas partidárias são arcaicas e pouco democráticas. O personalismo reina e dita os rumos das legendas de acordo com as conveniências. Este é um dos motivos pelo qual os partidos vêm caindo em descrédito junto à população.

Há uma outra frente que criminaliza a política e seus agentes a partir dos dispositivos midiáticos. Não importa se o indivíduo é correto e faz um bom trabalho. O que fica é: “Foi envolvido com política então é ladrão, vai roubar igual a todos”. “É tudo igual, nenhum presta”. O discurso de criminalização da política contribui com essas ideias de senso comum que pouco constroem e acabam criando uma espécie de intolerância ao exercício da política. 

Assim, subentende-se que participar da política partidária é o melhor caminho para obter vantagens e privilégios que possibilitem ascensão social. É bom lembrar que o fazer político não é exclusividade dos que estão filiados a um partido e concorrem a eleições majoritárias ou proporcionais. É saudável para democracia que o ambiente política seja para todos/as. É preciso que homens e mulheres ocupem os espaços importantes e rompam com esse raciocínio de que a política foi feita para poucos.        

Em meio ao cenário atual, movimentos oportunistas baseados na velha forma de fazer política se aproveitam da situação e tentam desconstruir a legitimidade das instituições democráticas. Geralmente se apresentam como “salvadores da pátria”, “defensores dos bons costumes” “os únicos capazes de salvar o Brasil da corrupção”. O discurso é inflado, financiado e logo se vende a ideia que é um movimento pelo Brasil, que não há envolvimento partidário e que as pessoas que estão ali não são de direita nem de esquerda. Será? 

Todo este contexto nos aponta para uma crise da democracia representativa, dos partidos políticos como instrumento entre a sociedade e as instâncias governamentais e do processo eleitoral. Quantas vezes não escutamos a população dizer que não vai mais votar em ninguém? Várias estatísticas indicam para o aumento dos votos brancos e nulos nas eleições. 

Estudiosos da Ciência Política apontam para o fenômeno catch-all-parties (partido pega tudo), ou seja, as ideologias de classe que fundamentaram a constituição das legendas em meados do século XIX foram substituídas por interesses políticos e econômicos regidos pelo pragmatismo que passa por cima das identidades programáticas dos partidos. 

Penso que é possível superar a crise de representatividade com mais participação popular. É preciso criar e disseminar mecanismo de empoderamento político para cidadãos comuns. Os gestores precisam efetivar o que as conferências apontam como agenda para sociedade. O clientelismo precisa deixar de figurar nas câmaras municipais. Vereadores e deputados precisam colabora e ajudar a sociedade a monitorar e cobrar que a participação popular seja respeitada e efetivada. Quem faz política ouvido e dialogando, erra menos.

Daniel Finizola é professor e vice-presidente do PT municipal

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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