Por Laura Gomes
Fernando Soares, falecido na último sexta-feira, 5 de maio, aos 78 anos, era um homem de esquerda e socialista de primeira hora. Fernando era a tradução correta da diferença entre popular e populista. Enquanto o político popular se ocupa das reivindicações diretas da população, principalmente do segmento mais necessitado e assume um compromisso com a agenda dos despossuídos e até desesperançados, o populista é o demagogo que procura emocionar as pessoas, envolver os sentimentos individuais e fazer da política paternalista e de concessão de favores o seu método de se manter no Poder.
Fernando Soares, ao longo dos seus quatro mandatos de vereador, nos tempos em que tais parlamentares não percebiam remuneração, e sem nunca ter o poder econômico como suporte, fez oposição constante a lideranças conservadoras de Caruaru. Não uma oposição odienta, mas em defesa de melhorias para os servidores da Prefeitura e para a população da periferia.
Sempre defendeu as bandeiras progressistas e acompanhou Miguel Arraes em todos os momentos de sua trajetória, tanto nos tempos da cassação do mandato do governador como depois, em seu retorno ao poder pelo voto popular, após amargar muitos anos de exílio.
Fernando Soares era de família pobre, tendo conseguido em meio a muitas dificuldades financeiras a formatura em Odontologia, exercendo a profissão como servidor público e concursado do INPS, atual INSS. Na função, manteve estreito contato com a população simples e, com seu modo de ser bem-humorado e solidário com as pessoas tornou-se uma figura popular em Caruaru.
A convivência com intelectuais e artistas, de mente aberta e de esquerda, ajudou Fernando a desenvolver uma visão de mundo sintonizada com os mais carentes, o que acabou por lhe dar votos suficientes para os quatro mandatos na Câmara de Vereadores e um quase mandato como deputado, tendo “batido na trave”, faltando apenas 55 votos para se tornar parlamentar estadual.
Este registro que faço neste momento objetiva resgatar um pedaço da história política de Caruaru, representada por Fernando Soares, na resistência à ditadura militar e ao conservadorismo sempre presente, e sempre poderoso, na maior cidade do interior de Pernambuco. Mais do que registrar a saudade do jeito alegre e disponível do recém falecido socialista pernambucano, me sinto no dever de enaltecer suas qualidades como homem do povo, socialista convicto e aliado fiel de Miguel Arraes e, depois de Eduardo Campos.
Que Pernambuco não esqueça o homem simples, mas honrado politicamente, que soube ficar no coração do povo de Caruaru pela via da dedicação e da coerência na luta por um mundo melhor para todos. O político popular, sim, tem a consideração e o apreço dos seus eleitores, e permanece vivo na memória da sua gente, pelo bem realizado coletivamente.
Fernando Soares foi assim. Um político popular que nunca cedeu à tentação fácil do populismo, da manipulação e da demagogia. Que descanse em paz o caruaruense simples, mas valioso, Fernando Soares da Silva.