Artigo: O cidadão brasileiro

Por Tiê Felix

É aquele sujeito anônimo, de classe média conservadora que Lula tanto ajudou com seus auxílios medíocres. É aquele mesmo passivo político que se rebela em algumas ocasiões na praça, entre os amigos, porque tem medo do poder e das autoridades. Acredita ele que deve-se tomar cuidado em falar demais para não perder a própria vida.

O cidadão brasileiro procura ignorar a realidade que o cerca, porque essa é dura demais para com ele. Seu salário medíocre não dá sustento pra tantas contas e ele nem reclama, porque é assim mesmo e a vida é difícil.

O cidadão sabe que no Brasil a política é medíocre, não serve pra nada a não ser para trazer problemas e não há muito o que fazer com relação a isso, porque “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. O cidadão não quer problemas, trata todos bem – chama o patrão de doutor –  pelo medo de que algum problema lhe ocorra de modo que o faça ter de buscar algum direito o que ele prefere não ter de procurar. O cidadão descrê dos direitos porque efetivamente estes não existem.

O cidadão brasileiro não se interessa por saber de coisa alguma, porque o saber pode ser bastante doloroso e fazê-lo ver algo que ele não gostaria de saber. O cidadão brasileiro é ignorante não porque quer, mas porque a ignorância é o melhor remédio contra o sofrimento. Quando se desconhece a causa da dor é mais fácil lidar com ela.

O cidadão brasileiro sabe conviver muito bem com os seus diferentes. Ele sabe que diferença não é só de cor, de sexo ou de algo mais; as diferenças no Brasil são da ordem da hierarquia e ele deve a todo custo submeter-se a elas.

O cidadão típico brasileiro reclama, diz o que pensa, não muito alto para não perder aquele empreguinho que lhe foi dado. Ele prefere mesmo manter aquela relação sádica com patrão de submissão e de suposto respeito, mesmo não tendo nenhum dos seus direitos garantidos. Ele prefere o coleguismo com o patrão e com o chefe, porque é preferível assim do que qualquer relação formal. No Brasil nada é formal, tudo é de brincadeirinha.

O formalismo é inexistente no Brasil e o cidadão sabe disso, por isso não exige muito.

Tiê Felix é professor

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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