Por Maurício Assuero
A propaganda do governo alerta que se a reforma da previdência não for aprovada vai faltar dinheiro para o Bolsa Família. Não posso dizer que nunca ouvi um disparate tão grande porque minha memória remete à campanha presidencial de 2014, quando João Santana, o marqueteiro de Dilma, mostrava uma família reunida e o alimento desaparecendo da mesa numa alusão ao fato de que se o PSDB ganhasse a eleição, aquilo iria acontecer com os brasileiros. O PSDB não ganhou e faltou comida, faltou emprego para os brasileiros, mas não faltou vergonha na cara dessas ilustres excelências.
A reforma da previdência é necessária, mas não guarda uma associação direta com o Bolsa Família. Aliás, seria até salutar se o governo acenasse para um programa que não fosse eleitoreiro nem paternalista como este. O Bolsa Família não muda, não transforma seus beneficiários em cidadão, mas em meros instrumentos dependentes aliciados a votar em fulano ou beltrano nas próximos eleições. Recentemente a Finlândia anunciou que daria US$ 2 mil ao uma determinada quantidade de habitantes durante um ano. As pessoas escolhidas não são essencialmente pobres, mas dentre elas há trabalhadores com carteira assinada. É uma realidade muito diferente do Brasil no qual, até quem já morreu está cadastrado no programa.
A sustentabilidade do Brasil passa, necessariamente, por reformas. A da previdência é importante, mas não menos que a reforma tributária. Então, se formos olhar os fatos, fale-se há muito mais tempo em reforma tributária do que em reforma previdenciária, mas o governo nunca teve coragem de bancar qualquer nessa direção, afinal se mexer em tributos vai afetar o produtor, o empresário, enquanto impor medidas previdenciárias afeta o trabalhador e ninguém está se lixando para isso. Fixar a idade mínima implica dizer que o governo deseja que o trabalhador passe mais tempo na ativa, mas quem disse que isso, por si só, irá resolver?
Quando trata da reforma previdenciária, o governo está preocupado com seus gastos e aí pouco importa se uma das saídas é desvincular os benefícios dos inativos do salário mínimo. Agora, como se preocupar com os gastos sem que haja e menor preocupação com a arrecadação? Mudar o modelo previdenciário sem que modifique os mecanismos de arrecadação não vai adiantar, pelo contrário, pode até penalizar ainda mais os trabalhadores que irão “morrer trabalhando” segundo a vontade do governo. Apenas para atentar para os fatos: a reforma previdenciária está na pauta e deve ser encaminhada até o final de junho. Não haverá reforma tributária, apenas remendos no que temos aí.