Por Maurício Assuero
Temer assume o governo e, provavelmente, deve ter se perguntado por onde começar a agir. O Brasil parece, hoje, um cano furado em várias partes nos quais o encanador tenta tapar os buracos com os dedos, mas isso não impede o vazamento. Primeiro, ele começa com o ministério puramente político o que nos parece ser gesto de agradecimento por ter chegado ao cargo de presidente (o PSD de Kassab deu o maior número de votos a favor do impeachment, Raul Jungmann foi responsável pela petição que suspendeu a nomeação de Lula, Bruno Araújo deu o voto histórico, Mendonça Filho trabalhou arduamente pelo impeachment, etc.). O nome de Meirelles se sobressai em qualidade. Em meio a tudo isso o governo tem uma série de problemas para tratar, imediatamente.
A questão da dívida pública é um fato que precisa ser atacado desde a primeira hora do governo. Não é possível gastar mais do que se arrecada e para ter sucesso nesse desafio é preciso cortar gastos. A redução do número de ministérios é salutar, mas a manutenção das benesses, não. Não adianta demitir as pessoas colocadas pelo PT para colocar pessoas que indicadas pela base de apoio. Além disso, os últimos atos de Dilma implicam em mais ônus para o governo, visto que houve um aumento no programa Bolsa Família (9,5%) e na tabela de isenção do imposto de renda (5%), embora isso cause um estrago menor. A receita do governo só aumentará com novos impostos (ou aumento dos já existentes), redução de gastos (ano eleitoral) ou privatização (se houver que seja diferente do fez FHC).
O país tem outros graves problemas em vários setores. Por exemplo, o setor energético. Os prejuízos consecutivos no Sistema Eletrobras são de proporções absurdas e não serão resolvidos apenas com a boa vontade. Já é conhecido no mercado a dificuldade financeira das empresas desse setor e o pior, os investimentos realizados (além das suspeitas de corrupção) não irão atender a demanda do país. O maior indicativo da queda de produção da economia é o gasto com energia. Na outra ponta, vem a Petrobras com um prejuízo de R$ 1,2 bilhões. Recuperar esta empresa é algo muito maior do que demitir 12 mil funcionários. É preciso um plano de recuperação convincente, que convença o mercado e os investidores, no entanto, enquanto não se resolver os problemas legais envolvendo a empresa, pouco adiantará.
O governo tem 100 dias para dizer a que veio. Passado este prazo, começarão as cobranças. Pode ser que as pessoas passem a entender melhor que a economia não se resolve trocando apenas o nome de quem a comanda. Antes, vamos ouvir a propostas.