Por Maurício Assuero
A imagem do Brasil, interna e externa, já absolutamente desgastada recebeu mais um golpe duro com a publicidade das delações feitas pelos diretores da Odebrecht. Aquelas palavras, ouvidas no mundo inteiro, jogaram por terra a reputação de muitos, principalmente de Lula que se forjou nos movimentos sindicais e que foi o primeiro presidente oriundo dos movimentos sociais. Tinha tudo para fazer história e fez estória. Mas, o fato mais complicado é, sem dúvida, a falta de credibilidade do governo para atrair capital externo e promover as reformas necessárias para que possamos voltar a crescer com sustentabilidade. No entanto, em meio a tanto desastre moral, não podemos deixar de comentar os absurdos ditos pelo presidente Temer numa entrevista a um canal de televisão no último fim de semana.
A primeira coisa mais chocante foi a admissibilidade de que Eduardo Cunha aceitou o pedido de impeachment de Dilma por pura retaliação ao PT que decidiu não apoiá-lo no conselho de ética. A gente sabe que grande parte dessas excelências que estão no Congresso colocam seus objetivos a frente dos objetivos na nação, mas isso foi absurdamente demasiado. Em diversos momentos, aqui nesse espaço, fizemos alusão a isto, embora reconhecendo que o governo Dilma não tinha mais sustentação, e alertamos que Eduardo Cunha teve uma grande responsabilidade na situação atual do país quando colocou em pauta projetos que prejudicaram, intensamente, o governo (exemplo, a questão da CPMF). A defesa de Dilma buscará reparação no STF, no entanto, é pouco provável que não consiga êxito porque quem tirou Dilma do poder, na verdade, foi o comportamento dos indicadores econômicos. O mercado financeiro sinalizou quem com ela a situação tenderia ao caos. Mesmo, sem impeachment dificilmente Dilma terminaria o mandato.
Estamos numa situação de que o principal inimigo do sistema econômico não é mais a inflação, visto que a custa do desemprego de 13,5 milhões de pessoas, a meta inflacionária está sendo observada. O principal inimigo do sistema econômico chama-se Michel Temer. Citado nas delações está aproveitando o equivoco legal de que não pode ser investigado. Ledo engano. Ele não pode ser indiciado por atos praticados antes de assumir a presidência, mas investigado ele pode ser, sim, porque nenhum cidadão pode estar acima da lei. Temer disse que “alguns ministros poderão se sentir constrangidos e sair”. Duvido que elas façam isso porque o poder atrai. Agora se isto fosse um sinal de decência por que ele, Temer, também não pede para sair? Havendo impedimento de Rodrigo Maia e de Eunício Oliveira, teríamos Carmem Lúcia na presidência pelo tempo necessário para convocar novas eleições. Acho que a economia agradeceria!