Por Luiz Carlos Borges da Silveira
O presidente Michel Temer tem a oportunidade de enriquecer seu currículo político e encerrar com mérito sua longa carreira de homem público. Pela situação do país em que ele foi chamado constitucionalmente a assumir e pela exiguidade de tempo, a tarefa é árdua, mas pode ser consagradora se a bom termo for conduzida.
Neste início de interinidade, que pode se tornar definitiva, percebe-se alguns equívocos capazes de deslustrar o final da vida pública de Temer e impedi-lo de deixar seu nome consolidado na história republicana do Brasil.
Temer deve ter plena consciência do que é preciso ser feito e da determinação que necessita para fazê-lo. Dar os primeiros passos e sinalizar vontade de mudar e de melhorar a situação é receita primária para conquistar credibilidade e conseguir adesão às medidas, projetos e programas, especialmente quanto às reformas que o país reclama. Precisa passar confiança e esperança na recuperação. A partir disto, a própria sociedade se encarregará de cobrar do Congresso o apoio necessário.
Infelizmente, o presidente não está dando demonstrações convincentes. Começou cedendo a pressões do Congresso e de partidos, inclusive o seu, para formação do gabinete ministerial, sendo compelido a nomear ministros e assessores do primeiro escalão com passado pouco ético, alguns citados, envolvidos e até denunciados por irregularidades na gestão pública e em investigações sobre corrupção.
O presidente tem declarado apoio à Lava Jato, que está passando o Brasil a limpo, porém ao engajar no governo políticos envolvidos ou investigados por essa mesma operação passa a impressão de que o discurso não é consistente. Esses assessores podem colocar Temer em situação constrangedora e ter de ficar se justificando.
Prova disso foi o episódio com o ministro Romero Jucá envolvendo, ainda que indiretamente, o nome do presidente em suposta articulação para enfraquecer a Operação Lava Jato a qual, para a população é um ícone na luta contra a corrupção. Tal fato compromete seriamente a credibilidade do governo, mesmo que proveniente de armadilha preparada por alguém de pouca ou nula credibilidade. O presidente revelou outras fraquezas políticas, como recuar na transformação do Ministério da Cultura em Secretaria e também ao aceitar que parlamentares definissem o nome do líder do governo na Câmara.
Quanto ao Ministério da Cultura, o presidente sucumbiu a pressões corporativas, quando deveria manter a decisão, até porque para tocar a política cultural não há necessidade de um Ministério. Países que desenvolvem políticas e projetos avançados, França e Alemanha, por exemplo, não têm ministério, apenas secretarias especiais. O governo deveria, isto sim, prestigiar o Ministério da Ciência e Tecnologia, de fundamental importância no atual contexto, pois esse é um terreno em que o país precisa avançar muito para sair do atraso.
E sobre a indicação do líder, não se concebe o presidente abdicar de sua prerrogativa, líder do governo é escolha do governo, não dos deputados. É responsabilidade do presidente que indica alguém de sua confiança, com trânsito no governo e bom relacionamento com as bancadas. O presidente acabou aceitando um aliado de Eduardo Cunha, o deputado André Moura (PSC-SE), praticamente imposto pelo grupo denominado “centrão” que é formado por parlamentares principalmente do PP, PR e PSD.
Até o momento, o destaque é a equipe econômica, integrada por experientes e competentes nomes da área, que já mostra sinais positivos, ainda que a economia brasileira seja extremamente problemática e onde resultados não aparecem de imediato.
Entendo que Michel Temer precisa adotar as medidas, ainda que amargas, discutir os projetos com transparência, cultivar o diálogo mas ser inflexível nos pontos mais sensíveis para a sociedade. Contar com apoio popular é ponto decisivo e a população tende a apoiar a partir da percepção de firmeza, de ética e de efetivas mudanças.