Norman de Paula Arruda Filho
No último mês de julho, um editorial do jornal americano Financial Times publicou recomendações a investidores que punissem o Brasil por não cumprir as promessas feitas na Cúpula do Clima deste ano. Segundo o editorial, “o ativismo de investidores pode ser uma força poderosa. Detentores de títulos e ações estão pressionando empresas e governos globalmente para melhorar a governança, reduzir as emissões de carbono, buscar o equilíbrio de gêneros e a diversidade racial, bem como entregar lucros crescentes”.
A pergunta que fica é: caminhamos em definitivo para o capitalismo consciente em que indicadores ESG (Environmental, Social & Governance, que pode ser traduzido como Ambiental, Social e Governança) podem fazer com que investidores pressionem governos? A resposta é sim. Embora a sigla ESG esteja na moda, o tema não é novo.
O desenvolvimento sustentável ocupa a pauta (ainda que timidamente) desde a década de 1990. Da criação da Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio ambiente, em 1992, aos protocolos Verdes, em 2008, tivemos marcos que auxiliaram na aceleração e no ‘upgrade’ do famoso ‘triple bottom line’ para os indicadores ESG, que se relacionam com os investimentos de impacto e investimentos responsáveis. Isso quer dizer que, além da empresa ter que se preocupar com as questões ambientais, sociais e econômicas, ela deve mensurar e demonstrar que está em conformidade com as diversas regulamentações específicas sobre o assunto.
Mas como mensurar os impactos ESG nos negócios? Segundo a consultoria Mckinsey Quarterly, em um estudo de 2019, existem cinco maneiras de mensuração dos impactos ESG:
· A primeira relaciona-se em confiança e reconhecimento – isto quer dizer, como a empresa passa a ser vista pelo mercado e pelos seus stakeholders – empresas adeptas de políticas ESG são preferidas pelo público geral, autoridades governamentais e em relação aos seus concorrentes;
· A segunda refere-se à sustentabilidade do negócio. A utilização ambiental e socialmente correta de recursos naturais é mais eficiente, o que resulta em redução de gastos operacionais;
· A terceira está relacionada à uma maior liberdade estratégica empresarial, visto que investir em ESG acarreta a redução de intervenções legais e regulatórias;
· A sustentabilidade do negócio também permeia o quarto e o quinto itens: retenção de funcionários de qualidade e aumentar o retorno do investimento ao ‘alocar oportunidades mais promissoras e sustentáveis’.
Segundo a US Business Rountable, de 2014 a 2019, os investimentos orientados para ESG representaram um aumento de 68%, atingindo a marca de US$ 30 trilhões em 2019.
O recém-divulgado relatório do IPCC indica que a influência humana é responsável por alta na temperatura global e os cenários de eventos climáticos extremos serão mais recorrentes e impactantes. Além disso, as crises econômicas e de saúde causadas pela pandemia da covid-19 fazem com que o capitalismo consciente dite as regras para o mercado. E o dinheiro, elemento que roda o mundo, seja utilizado para pressionar quem ainda nada contra a corrente ESG.
*Norman Arruda Filho é presidente do ISAE Escola de Negócios e membro do Comitê Brasileiro do Pacto Global das Nações Unidas.