Jaciara Fernandes
Que a arte tem o incrível poder de causar uma mistura de sentimentos nas pessoas, todo mundo sabe. Algumas sentem nostalgia, outras se realizam e há quem sinta até tristeza. No caso da artista plástica Vandete Miranda, o que ela sente e consegue transmitir é o amor. Para comprovar, basta olhar as telas que estão expostas na loja 3 da recém-inaugurada galeria que leva o seu nome, na Avenida Agamenon Magalhães, em Caruaru. Além da beleza criada por ela, o espaço tem clima de paz e o tempo parece não passar. Foi assim que aconteceu comigo, durante produção desta matéria.
Aos 77 anos, a artista precisou, literalmente, se reinventar, após a morte do marido, Paulo Miranda, há dois anos. Foram 56 anos de convivência, união e a construção de uma família com quatro filhos: Paulo André, Gustavo, Giovana e Andréa. É certo que o tempo para se dedicar à arte sempre foi curto, mas ela, vez por outra, se via com o pincel na mão por puro incentivo do seu maior admirador, o esposo, reconhecido como uma das mais ilustres figuras em relação ao incentivo à cultura no município nas mais diferentes manifestações.
Vandete conta que ainda criança, quando estudava no então Colégio das Freiras, hoje Sagrado Coração, nunca dispensou um caderno de desenho. “Sempre me sentia bem e realizada por fazer meus desenhos, após os exercícios de sala de aula”, lembrou.
O gosto pela arte do desenho só aumentou e, as horas em que estava em casa, sabia dividir o tempo de brincar com o de criar nas folhas brancas que logo ganhavam um colorido todo especial. Transferida para o Colégio Caruaru, atualmente Colégio Diocesano, ela se aperfeiçoou e deixava viajar na sua imaginação.
Depois de casada, Vandete teve o que mais sonhava: um companheiro que a apoiava em tudo que desejava. “Paulo me deu a luz a qual tanto precisava ter para viver feliz”, comentou, emocionada.
Com força de vontade, começou a estudar pintura no Recife, com a artista plástica de origem italiana Janet Buffa. A aula era uma vez por semana, no bairro nobre da Jaqueira. Depois, surgiu a ideia de formar uma turma de alunos em Caruaru e as aulas passaram a ser realizadas no 1º andar do Central Sport Club, agora com o professor Josael Oliveira, que vinha exclusivamente da capital para passar sua arte aos jovens pintores da Capital do Agreste. Depois, ela se entregou ao conteúdo do professor Gláuber Fábio. “Foi um tempo de muito aprendizado em que não esgotava a criatividade e o amor pela arte”, disse.
Inicialmente as telas de Vandete Miranda eram a óleo, mas ela passou a trabalhar com tinta acrílica. Nas imagens, vemos a tendência pela natureza-morta, um tipo de pintura e fotografia em que se veem seres inanimados, como frutas, louças, instrumentos musicais, flores, livros, taças de vidro, garrafas, jarras de metal, porcelanas, dentre outros objetos. Se refere à arte de pintar, desenhar, fotografar composições deste gênero.
O nu artístico, criado por ela, chama a atenção pela beleza e sensibilidade. Embora se costume associar ao erotismo, o nu pode ter diversas interpretações e significados, da mitologia até a religião, passando pelo estudo anatômico, ou ainda como representação da beleza e ideal estético da perfeição. “Tudo depende da maneira que se você se expressa.”
O cheiro das tintas e os pincéis entre os dedos a fazem passar o tempo sem sua companhia preferida, o esposo. Porém, a certeza de que ele permanece presente espiritualmente a incentiva erguer a cabeça e expor 20 telas, já com molduras, na loja 3 da galeria que leva o seu nome (Vandete Miranda).
Os preços variam entre R$ 250 e R$ 550, podendo o pagamento ser parcelado. O funcionamento é de segunda a domingo, sempre no horário das 15h às 19h. Questionada sobre a sua nova fase na arte, ela é modesta: “Tô aprendendo a pintar. Cada tela é um pouquinho de mim, é um filho”, finalizou. Contato com a artista: (81) 99499-4872.