Os acidentes com animais peçonhentos, como escorpiões, serpentes e abelhas, têm crescido ano a ano em Pernambuco. Até o mês de setembro, data do último levantamento divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, foram 15.652 registros, número 11% maior do que o mesmo período do ano passado, quando foram contabilizados 14.067 incidentes. Em todo o ano de 2017, as notificações chamam a atenção: quase 20 mil pessoas foram picadas ou mordidas por algum desses bichos. A maioria das picadas se dá por escorpião. A chegada do verão, com clima mais quente e úmido, associado às férias e feriadões pode agravar a ocorrência desses incidentes com o aracnídeo.
Possivelmente, os registros deste ano devem se equiparar aos do ano passado se o ritmo de dois mil casos mensais se mantiver. Na comparação com 2016, os incidentes com peçonhentos do ano passado cresceram 37,3%. Na semana passada uma criança de 3 anos foi picada dentro da escola, no bairro do Jiquiá, Zona Oeste do Recife. No mesmo período, em Jaboatão dos Guararapes, um bebê de oito meses morreu após ser atacado por um animal peçonhentos. Entre 2015 e 2018 já são 59 mortes.
São destaques 25 óbitos por serpentes, 15 por abelhas e 14 por escorpiões nestes quatro últimos anos. Especialistas alertam que a população deve ficar atenta neste fim de ano e começo de 2019. A prevenção aos incidentes com escorpiões exige mais atenção. “No verão, esses animais entram em período reprodutivo e ficam mais andarilhos. Por isso, o contato deles com o ser humano se dá de forma mais intensa”, comentou o gerente do Centro de Vigilância Ambiental do Recife, Jurandir Almeida.
Ele reforçou atenção especial àqueles que vão viajar para casas de veraneio. “As pessoas começam a ocupar esses imóveis, que estavam em situação de quase abandono por meses, e ali já se instalaram alguns desses animais e pode acontecer o acidente”, comentou. Além do esvaziamento dos imóveis, outro fator que pode favorecer o aparecimento de escorpiões é o acúmulo de entulhos e lixo, espaços onde baratas são constantes.
“Para o escorpião, o ambiente com barata é perfeito porque o principal alimento dele no meio urbano é a barata. Esses entulhos de resto de construção, metralha, tijolo, garrafa, que a gente chama de entulho de quintal favorece”, explicou. A limpeza dos lares, seja dentro de casa ou nas áreas adjacente, é primordial, mas deve ser cautelosa. É preciso proteção individual com bota, luva e atenção para fazer a limpeza.
Almeida explicou que, no Recife, os agentes de endemias, nas visitas de rotina, fazem orientação à população sobre riscos e somente em alguns casos realiza a ação química. O gerente de Zoonoses da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Francisco Duarte, explicou que as dedetizações devem ser feitas com cautela para não piorar a situação. “A questão de dedetizar para escorpião é complicada. Tem que ver o escorpião para poder matar. Se encher de veneno o local, o produto vai irritá-lo e ele vai sair ainda mais da toca. Agora, quando tem uma infestação muito grande é mesmo preciso pulverizar”, contou.
Ataques de animais peçonhentos em Pernambuco
Duarte comentou ainda que as ocorrências com abelhas vêm aumentando, e a população deve se cuidar. De 2016 para 2017 houve uma alta de 43,7% dos ataques. Nos primeiros nove meses de 2018 já foram 1.811 registros, 26,7% a mais que todo o ano de 2017. No dia 18 de novembro, um grupo de 24 alunos de uma escola de Caruaru, no Agreste, foi atacado após um estudante jogar uma pedra contra uma colmeia. Todos precisaram de atendimento médico. Francisco Duarte informou que todos os incidentes podem ser mais graves em crianças menores de 5 anos e idosos. Tão importante quanto a prevenção é o socorro rápido para este grupo.
“Acidente com escorpião, se for criança até 5 anos e idoso, tem que procurar imediatamente o Hospital da Restauração (HR), no Recife, ou um hospital regional. Se a pessoa for acima dessa idade deve ir para a UPA avaliar. Nos casos dos outros acidentes, tem que procurar o hospital de referência. O HR, por exemplo, atende a região de Palmares, Goiana, e Limoeiro. A partir de Caruaru temos soro em praticamente todos os hospitais regionais do Estado”, exemplificou.
A dona de casa Sueli Olindina, 64, foi picada por escorpião há dois meses, no Recife. “Quando peguei na maçaneta da porta senti aquela dor. Procurei a UPA e depois o HR. Lá disseram que só precisava de soro para criança. Passaram paracetamol e dipirona, mas fiquei quatro dias sem sentir do dedo ao braço. Depois disso vasculhamos toda a casa, mas não encontramos mais escorpiões. Tomamos todos os cuidados porque eu moro com mais três crianças e minha mãe de 98 anos”, disse.
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