Mais comum do que a maioria dos pais pensam, porém ainda pouco compreendida em muitas partes do mundo, o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, com causas multifatoriais, como fatores genéticos, biológicos e neuropsicológicos, que se inicia na infância e pode se estender até a idade adulta com sintomas que prejudicam o desenvolvimento. Estudos apontam que esse transtorno pode persistir até a vida adulta em até 70% dos casos.
O diagnóstico do TDAH deve ser feito por uma equipe multidisciplinar com psicólogo, neurologista, pedagogo e psiquiatra. O psicólogo pode tanto atuar na avaliação para diagnosticar o TDAH como no acompanhamento pós-diagnóstico. “Durante o tratamento o psicólogo vai ajudar o indivíduo acometido pelo TDAH, bem como seus familiares, a entender o transtorno, identificar as melhores formas de adaptação frente às suas necessidades, fazer os encaminhamentos necessários, buscando sempre proporcionar melhores condições de qualidade de vida”, avalia a psicóloga Silmara Batista Brizoti.
Silmara explica que há três sintomas predominante no indivíduo com o TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade, que podem se manifestarem de diversas formas.
As crianças hiperativas demonstram serem mais agitadas e impulsivas, o que acaba causando alguns problemas no convívio social, além de apresentar maior propensão para acidentes. Com o passar dos anos, esses sintomas tendem a diminuir, enquanto a desatenção costuma perdurar até a idade adulta e afetando assim as ações do cotidiano e trabalho, além da memória.
Sinais de alerta
Silmara conta ainda que, normalmente a partir da idade escolar as crianças vão apresentar mais claramente os sintomas e as dificuldades pertinentes do transtorno e das suas comorbidades. Por isso, os pais devem ficar atentos sobre os principais sintomas como a dificuldade de manter o foco em uma atividade por muito tempo; acentuada desatenção nos deveres escolares e demais atividades da rotina; inquietação física, mexer demasiadamente mãos e pés, e impulsividade nas interações.
A psicóloga salienta que, os pais devem se informar sobre esse transtorno, seus sintomas e comorbidades para que possam, de forma acolhedora e amável, ajudar essas crianças, jovens ou adultos a se sentirem encorajados a superarem os desafios. “São muitas e simples as ações que podem proporcionar qualidade de vida, mas que se negligenciadas acarretam enormes prejuízos ao indivíduo acometido pelo TDAH, bem como aos familiares próximos”, diz. Ela cita algumas dicas para o tratamento como sempre que pertinente tecer elogios ao indivíduo; não o comparar com outras pessoas, e criar uma rotina.
A psicóloga pontua que é muito importante que esse paciente procure orientações com tratamento psicológico para entender o próprio transtorno, reconhecer seus sintomas e danos, encontrar meios de adaptação para conviver com o mesmo e trabalhar com toda a repercussão que o TDAH pode ter acarretado especialmente antes do diagnóstico, como bullying, depreciação, prejuízos escolares, de relacionamentos e muitas outras questões emocionais.
“Não há nenhum tratamento único que elimine completamente o TDAH, porém pode ser desenvolvido todo um processo de psicoeducação e manejo dos sintomas para que possam levar a vida normalmente. Se diagnosticado e tratado desde a infância, estes indivíduos serão adultos melhores adaptados, mas muitos chegam nesta fase sem ao menos serem diagnosticados o que acarreta maiores prejuízos escolares, sociais e emocionais”, revela Silmara.
O tempo de duração do acompanhamento psicológico varia de paciente para paciente, pois cada indivíduo apresenta suas próprias necessidades.
Transtorno acompanhado de comorbidades
O TDAH dificilmente se apresentara de forma isolada. Estudos apontam que 70% dos casos vão estar associados a pelo menos mais um distúrbio e que, em pelo menos 10% dos casos, serão acometidos por três ou mais comorbidades, sendo as mais comuns de serem associadas ao TDAH a dislexia, discalculia, depressão, ansiedade, transtornos de humor, entre outros.
Silmara enfatiza que atualmente está bem mais fácil identificar as crianças com esse transtorno por haver mais pesquisas e informações disponíveis. Mas que a hiperatividade e a falta de atenção são sintomas encontrados em todas as pessoas, no entanto, o diferencial é o grau de intensidade, o que determinará se o indivíduo realmente sofre de TDAH. “Estima-se que muitos adultos são acometidos, sofrem o impacto do transtorno na sua vida sem que tenham sido diagnosticados por falta de informações”, diz.
Números que só crescem a cada ano
Segundo recente estudo na Holanda, pesquisadores apontaram que pessoas com o TDAH possuem um cérebro levemente menor do que aquelas que não o tem. Especialistas afirmam que essa nova informação reitera que não se trata de uma má conduta, mas de uma alteração física.
Nos Estados Unidos, estudo feito pelo Centro Nacional de Estatísticas de Saúde dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) revelou que o número de consultas realizadas para tratar crianças com TDAH tem aumentado significativamente no país norte-americano.
Entre 2012 e 2013, foram registradas cerca de 6,1 milhões de consultas para atender crianças com idades entre os 4 e 17 anos com um diagnóstico primário de TDAH. Esse número representa 6% das visitas ao médico de todas as crianças norte-americanas em 2013, uma percentagem que aumentou quando comparada com a última década, quando 4% das consultas médicas pediátricas eram relacionadas a esse transtorno.
O estudo divulgado aponta ainda que, 29% dos diagnósticos de TDAH também incluíram um transtorno adicional de saúde mental, especialmente transtorno de humor episódico e ansiedade. Conclui-se que 8 em cada 10 consultas médicas por TDAH levou à prescrição de um medicamento estimulante do sistema nervoso central.
No Brasil, estudo feito por pesquisadores da USP, e das universidades federais do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul apontaram que em 2015 havia aproximadamente 250 mil adolescentes e crianças que não sabiam que sofriam os efeitos do TDAH. O grupo concluiu, naquele ano, que a falta de assistência custa aos cofres públicos mais de R$ 1,8 bilhão por ano. Dinheiro que está embutido nos gastos com a repetência escolar, além dos atendimentos na rede pública de saúde direcionados aos feridos em acidentes provocados pela hiperatividade.