O Ministério da Saúde vai qualificar o atendimento aos idosos na rede pública de saúde. Lançada ontem (6/11), a Estratégia Nacional para o Envelhecimento Saudável traz pela primeira vez orientações aos profissionais de saúde e gestores para aumentar a qualidade de vida dessa população, que vai representar cerca de 20% dos brasileiros em 2030. Com as novas medidas, o atendimento às pessoas com 60 anos ou mais deve priorizar avaliação funcional e psicossocial, além dos dados clínicos. O objetivo é reduzir a perda da autonomia, aumentar o desempenho cognitivo e a sobrevida desses pacientes.
O Brasil possui a quinta maior população idosa do mundo, com cerca de 29,3 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. Desse total, 69,9% são independentes para o autocuidado e 30,1% têm alguma dificuldade para realizar atividades da vida diária, segundo estudo de 2017 (Lima-Costa, MF et al, com base em dados da Pesquisa Nacional de Saúde 2013). Dessa parcela, 17,3% tem muita dificuldade com atividades instrumentais, que são aquelas diárias, como preparar alimentos, cuidar da casa, se deslocar; e outros 6,8% apresentam dificuldades com atividades básicas, como vestir-se e alimentar-se. Preocupa também o avanço das doenças crônicas nessa população. Atualmente, entre os idosos de 60 a 69 anos, 25,1% tem diabetes, 57,1% foram diagnosticados com hipertensão, além de a maioria estar com excesso de peso (63,5%) e 23,1% com obesidade.
“O Brasil está com a projeção de ter um crescimento de pessoas idosas muito maior que outros países e de forma muito acelerada. Com isso, precisamos estar mais preparados para essa nova realidade e é justamente isso que estamos fazendo. A nossa proposta é que o olhar não seja focada apenas na doença e sim na saúde, ou seja, vamos parar de financiar a doença e investir em um atendimento integral à população idosa, justamente para evitar que essas pessoas desenvolvam doenças”, destaca o ministro da Saúde, Ricardo Barros.
De acordo com as estimativas, em 2030 o número de brasileiros idosos ultrapassará o de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos e representará 41,5 milhões de pessoas, ou 18,7% da população. Diante desse cenário, o Ministério da Saúde tem priorizado ações que fortalecem a organização da rede e investido na promoção da saúde, no acesso aos serviços e na qualificação dos profissionais para responder a essa nova realidade.
Entre as novidades anunciadas está, por exemplo, a implementação do atendimento multidimensional em que o foco deixa de ser apenas na doença. O cuidado passa a ser orientado pela avaliação clínica, psicossocial e funcional, o que permitirá identificar as reais necessidades de cada caso. Assim, o acompanhamento desses pacientes será norteado a partir de um projeto terapêutico individual, com ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e agravos, tratamentos, reabilitação e cuidados paliativos.
Com as novas diretrizes, o profissional deverá levar em consideração, por exemplo, o nível de independência e autonomia para atividades cotidianas, as necessidades de adaptação ou supervisão de terceiros, a vulnerabilidade social e o estilo de vida das pessoas idosas, como alimentação, prática de exercícios, prevenção de quedas, hábitos de saúde e histórico clínico.
O atendimento deve ser feito por meio da Atenção Básica, principal porta de entrada para o SUS, em uma das 41.688 Unidades Básicas de Saúde distribuídas por todo o Brasil. Quando for necessário, o paciente será encaminhado a unidades especializadas de saúde.
“O envelhecimento é um assunto prioritário e deve ser tratado com cuidado, para que seja possível qualificar o atendimento integral a essa população. Pela primeira vez nós estamos fazendo isso, reorganizando todo o serviço e capacitando os profissionais. Já foram 14 mil profissionais capacitados no ano passado e este ano e outros 10 mil devem ser capacitados. Todos são atuantes na Atenção Básica, porta de entrada para o SUS”, reforça o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Francisco Figueiredo.
METAS – Com a implementação da linha de cuidado da pessoa idosa no âmbito do SUS, será possível obter diversos resultados a curto, médio e longo prazo. Além de adaptar os serviços de acordo com o novo cenário populacional que está se formando e organizar o percurso das pessoas idosas nos serviços de saúde, será possível promover a interlocução entre as unidades de saúde e a rede local de assistência social e proteção de direitos.
A maior aproximação do profissional de saúde à realidade do paciente visa, além da maior autonomia, sobrevida e desempenho cognitivo da pessoa idosa, prevenir prescrições inadequadas de medicamentos, o que evitará uso desnecessário de fármacos e reduzir eventuais complicações em função desse uso, diminuindo custos com internações, exames e medicamentos.
“O envelhecimento saudável é muito mais que a ausência de doença. A perda das condições físicas e mentais impossibilita o idoso de realizar atividades do seu cotidiano, o que causa sofrimento para ele e para a família. Por isso reafirmamos a importância de que o cuidado seja multidimensional, organizado por meio de uma linha de cuidado muito mais ampla, considerando diferentes fatores que influenciam na sua condição de saúde”, completou a coordenadora de Saúde da Pessoa Idosa do Ministério da Saúde, Cristina Hoffmann.
CADERNETA DA PESSOA IDOSA – Outra novidade é a atualização e implementação da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa, que permite conhecer as necessidades de saúde dessa população atendida na atenção básica. As informações contidas nesse documento passarão a ser inseridas no Prontuário Eletrônico.
Pela Caderneta é possível identificar o comprometimento da capacidade funcional, condições de saúde, hábitos de vida, vulnerabilidades, além de ofertar orientações para o autocuidado como alimentação saudável, atividade física, prevenção de quedas, sexualidade e armazenamento de medicamentos. Em 2017, serão distribuídas 3,9 milhões de exemplares aos municípios, um investimento de R$ 2,9 milhões. Em 2018, mais 1,5 milhão de unidades serão entregues.
APLICATIVO – O Ministério da Saúde também está lançando, em parceria com a Universidade Aberta do SUS (UNASUS/DF), um aplicativo que possui três ferramentas para subsidiar profissionais de saúde na avaliação das pessoas idosas. Com o aplicativo, será possível identificar a pessoa idosa vulnerável na comunidade, identificar a vulnerabilidade familiar para definir o foco do acompanhamento e avaliar a massa corporal em relação à altura, detectando o estado nutricional dos idosos. A ferramenta estará disponível gratuitamente pelo Google Play para Android.
A partir de 7/11, o Ministério da Saúde vai colocar em consulta pública o documento com as orientações técnicas para implementação da linha de cuidado da pessoa idosa no SUS, para colaboração de cidadãos e especialistas.