Com o período de quarentena no país, que completou 100 dias em 24 de junho, muitas empresas aderiram ao modelo de trabalho remoto, com o objetivo de garantir a saúde de seus funcionários. O lado ruim, porém, é que os pequenos empreendimentos de bairro, que dependem da clientela local, viram seus fregueses minguar da noite para o dia. Sem recursos para investir em plataformas digitais, ou ceder boa parte de suas receitas em taxas para aplicativos de delivery, diversos negócios correm o risco de falir.
Para minimizar esses entraves e garantir um crescimento mais sustentável dos empreendimentos do Recife Antigo, o CESAR, junto com o Porto Digital, Prefeitura do Recife, a Le Fil, Softex e alunos da CESAR School uniram-se na construção do projeto “Digitalize-se”, que visa levar a transformação digital aos microempreendedores locais.
“Percebemos as dificuldades que os pequenos empreendimentos estão sentindo nessa pandemia e o Digitalize-se vai ajudar a fortalecer essas empresas e prepará-las para o ‘novo normal’. Sabemos que os hábitos de consumo mudarão mesmo depois da quarentena e será fundamental para os empreendedores se reinventarem para atender às demandas desse ‘novo’ cliente. A transformação digital se faz necessária hoje em qualquer segmento da economia e porte de negócio”, destaca Gelisa Bosi, secretária-executiva de Inovação e Estratégias da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação da Prefeitura de Recife.
Durante o programa, os empresários recebem mentoria e participam de workshops, de maneira 100% online e gratuita, com especialistas em vendas, e-commerce, marketing digital e inovação, tanto do CESAR quanto de parceiros convidados. E como forma de aproximar os estabelecimentos do seu público – que em sua maioria ainda encontra-se em casa, foi criada uma vitrine virtual, o Sabores do Antigo, que permitirá aos restaurantes a criação de um canal direto com seus clientes para realização dos pedidos. www.saboresdoantigo.com.br
“Além de fornecer a solução tecnológica, o Digitalize-se vai ajudar a plantar a semente da transformação digital nesses pequenos empreendimentos. Os participantes, por meio das palestras e mentorias, vão aprender a reestruturar seus modelos de negócios e adaptá-los às demandas de mercado atuais. Saber oferecer seus produtos e serviços online é imprescindível e vamos ensiná-los a usar todas as ferramentas possíveis para alavancar vendas em qualquer cenário, com o uso das tecnologias”, destaca Mariana Pincovsky, superintendente de negócios e inovação de Porto Digital.
Para os pequenos pode ser muito caro aderir a plataformas já existentes no mercado, como os aplicativos de delivery, que ficam com uma parcela da receita das lojas atendidas. O projeto Digitalize-se, portanto, nasce como alternativa para garantir a retomada sustentável do comércio de bairro. Por meio do projeto, o pequeno empreendedor vai aprender também a vender e fidelizar online, captando novos clientes de fora da região, com atendimento remoto, sem perder qualidade.
“Muitos negócios dependem da proximidade com os clientes para vender e o isolamento social forçou as empresas a buscar um caminho alternativo. A transformação digital é o que viabiliza a economia hoje. A Internet não tem fronteiras e quase todos os brasileiros têm smartphone e acesso à Internet. Ficar de fora desse ecossistema digital não é uma opção, portanto”, afirma Eduardo Peixoto, Chief Design Officer do CESAR.
Portas fechadas e queda de receitas na pandemia
A iniciativa partiu da análise de um levantamento que o CESAR realizou, com 27 estabelecimentos de micro e pequeno porte no Porto Digital, por onde circulavam cerca de 10 mil pessoas por dia antes da quarentena. Destes, 86% não estão operando com sistema de entrega na pandemia. Apenas 4 dessas empresas aderiram às vendas online, utilizando desde Whatsapp, Instagram e demais redes sociais, até aplicativos de delivery, como Ifood e Rappi.
No geral, 90% dos estabelecimentos relataram queda brusca nas receitas durante os quase três meses de isolamento social. Dois empreendimentos, inclusive, chegaram a zerar o faturamento no período. Entre os principais problemas apontados pelos empreendedores numa possível migração para plataformas online estão: captação de novos clientes (29,3%), criação de um cardápio digital (19,2%), logística (17,2%) e precificação (9,1%).
O restaurante Sabor de Pernambuco, por exemplo, está há quase quatro meses de portas fechadas por conta da pandemia. “No Recife Antigo, mais de 80% do movimento vem dos trabalhadores das empresas do Porto Digital. Sem esse público, e sem a possibilidade de vender online em um raio mais amplo, não fazia sentido abrir o estabelecimento, que está com faturamento zerado desde a quarentena”, explica Vera Vasconcelos, dona do restaurante e vice-presidente da Associação de Bares e Restaurantes de Recife.
“A plataforma que o CESAR está disponibilizando para nós vai ser fundamental para a retomada das receitas, pois será possível realizar entregas para nossos clientes antigos, funcionários do Porto Digital, e também para novos clientes, de outras regiões”, explica a empreendedora. “O cardápio ficará disponível online e as entregas serão feitas por uma empresa parceira, que também faz parte do ecossistema tecnológico”, complementa.