Por Kelly Maurice (*)
As incertezas sobre o futuro do mercado de trabalho, vindas do advento tecnológico e suas constantes mudanças de paradigmas, atingem em cheio a sociedade global. Enquanto carreiras tradicionais deixam de existir todos os dias, novos empregos que ainda nem imaginamos começam a ser desenvolvidos dentro de pequenas empresas que se tornarão, em um futuro próximo, gigantescas corporações. Isso torna o trabalho de professores e formuladores de políticas públicas educacionais cada vez mais difícil, além de, em última instância, afetar uma geração inteira de jovens sonhadores ávidos para entrarem no mercado de trabalho.
Se o cenário descrito acima já é complexo e de difícil solução para as grandes potências mundiais, há uma preocupação ainda maior em relação aos países em desenvolvimento. Enquanto países ricos da América do Norte, Ásia e Europa investem na preparação de seus jovens para o futuro do planeta, na América Latina os baixos índices de avaliação da educação em países como México e Brasil, os dois focos de atuação da organização Educando, desafiam educadores a criar políticas eficientes com baixo nível de investimento.
As deficiências em educação básica e inovação são dois problemas que devem ser encarados com seriedade e planejamento estratégico de longo prazo. Alguns exemplos globais, no entanto, mostram que a criatividade é uma das formas de sair dessa armadilha. Foi assim com o professor queniano Peter Tabichi, que venceu recentemente o Global Teacher Prize (“Prêmio Professor Global) de 2019. Conhecida como o “Nobel da Educação”, a premiação de US$ 1 milhão reconhece as grandes contribuições dos professores. Tabichi, cujos estudantes enfrentam percalços como fome e gravidez na adolescência, doa 80% de seu salário para ajudar alunos com uniformes e material escolar na Escola Secundária Keriko Mixed Day, no vilarejo de Pwani, Vale do Rift, no Quênia. Ele ainda fundou um grupo de formação de talentos e expandiu o Clube de Ciências local. Resultado: 60% deles são qualificados para competições e já faturaram vários prêmios internacionais, entre eles o Royal Society of Chemistry.
No Brasil, dados do Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (IDEB), principal indicador da qualidade da educação básica no país, divulgados pelo MEC no final de 2018, revelam que nenhum dos estados atingiu a nota estabelecida para o Ensino Médio, ficando em 3,8 em uma escala de 10, quando a meta seria 4,7. Além disso, dentre 46 países onde a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) realiza estudos, o País é apenas o antepenúltimo em geração de profissionais aptos a atuar em mercados de trabalho como animação, arquitetura, design, tecnologia, biomedicina, computação, engenharia e tantos outros: apenas 17%.
As notas médias do mais recente Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), realizado em 2018, antecipam esses resultados. Os estudantes brasileiros estão em retração no que tange aos estudos das Ciências da Natureza. A nota média em física, química e biologia caiu de 510,6 para 493 pontos.
Acreditamos que um caminho para transformar essa realidade passa por uma tendência mundial nos países desenvolvidos: o método STEM (acrônimo em inglês usado para designar Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática – Science, Technology, Engineering, and Mathematics). Pretendemos estimular a inovação nas escolas por meio de nossos programas STEM Brasil, criado em 2009, e STEM México, recém-lançado em 2018. Com pequenas adequações aos currículos específicos de cada país, ambos são projetos com foco na capacitação de professores de escolas públicas. Apenas com a melhoria da qualidade desses professores seremos capazes de realizar uma mudança sistêmica capaz de atingir o maior número possível de alunos.
A missão da Educando é oferecer capacitação de altíssima qualidade e apoio contínuo a professores e diretores de escolas públicas no México e Brasil com o objetivo de impactar a educação de maneira sistêmica. Investir na formação dos professores é a maior garantia de que esse conhecimento vai se espalhar pelas novas gerações. A educação é a grande ferramenta para que países como México e o Brasil deixem os problemas para trás e encarem um novo ciclo de desenvolvimento econômico. Precisamos preparar hoje os estudantes para o amanhã. Um grande futuro começa com grandes professores.
*Kelly Maurice é Diretora Executiva da Educando by Worldfund (educando.org)