A segunda metade do mandato de Raquel Lyra (PSDB) no Governo de Pernambuco se inicia bem diferente do cenário que a elegeu. Se durante a campanha eleitoral a tucana prezou pela independência e o sigilo sobre seu candidato à presidência, e aproveitou o apoio de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), agora ela já é considerada “da base” por ministros de Lula (PT), e os petistas estariam cobiçando sua filiação para disputar o pleito de 2026.
A especulação mais forte é de que Lyra trocará o PSDB pelo PSD para oficializar o status de governista e contar com o presidente Lula em seu palanque para a reeleição, mas sem perder o eleitorado mais à direita que a elegeu em 2022. Ambos os partidos estão negociando uma fusão ou federação, o que facilitaria a migração.
Na última semana, entretanto, medalhões petistas também demonstraram interesse em ter a governadora em seus quadros, apesar de ainda encontrar resistência em alas do Partido dos Trabalhadores, especialmente as mais ligadas ao prefeito João Campos (PSB) no Recife.
O diretório estadual do PT aguarda uma definição entre Lula e o senador Humberto Costa (PT) para ‘bater o martelo’ sobre passar para a base do Governo. A entrada na gestão pode acontecer através de uma vaga no primeiro escalão.
Independente do partido, os caminhos de Raquel Lyra levam a Lula, mas o petista pode não soltar a mão de João Campos. O cientista político Hely Ferreira analisa que os petistas podem tentar subir em dois palanques em 2026 – e a estratégia pode acabar beneficiando a tucana.
“O PT assumindo uma secretaria e permanecendo até 2026 provavelmente repetirá os dois palanques que ocorreram aqui quando Eduardo Campos disputou a primeira vez o Governo do Estado. Naquela época, o mais favorecido foi Eduardo, e o PT saiu prejudicado. Agora, seria o contrário. João Campos sairia muito mais fragilizado”, analisou.
“João sempre disse que apoia Lula. E Lula apoiou o candidato dele a governador, Danilo Cabral. Raquel nunca se posicionou com relação a quem seria o candidato dela à presidência da República. Seria um aliado de primeira hora sendo trocado ou dividido por um aliado de um segundo momento”, complementou.
Hely Ferreira avalia que a preferência de Lula por Raquel poderia levar o prefeito a desistir do pleito em 2026.
“Creio que na possibilidade de dois palanques de Lula em Pernambuco, João Campos não vai disputar o Governo do Estado. Ele sabe que seria arriscado partir para uma disputa deixando a Prefeitura do Recife, única e principal vitrine do PSB no cenário nacional. A presença de João Campos em Brasília é para marcar território, mostrar que está cada vez mais alinhado ao presidente Lula”, afirmou.
Em meio aos entraves com a CNB – corrente majoritária do PT – e os flertes dos petistas com Raquel, João Campos se reuniu em Brasília com o presidente Lula e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), na última quinta-feira (16), e fez questão de registrar os encontros nas redes sociais.
Além disso, membros da assessoria do prefeito foram convidados a compor a Secretaria de Comunicação do Governo Federal, agora sob o comando do marqueteiro Sidônio Palmeira.
Secretariado
O deputado estadual João Paulo (PT) foi cotado internamente para assumir a Secretaria de Educação. Ele não negou a especulação, mas declarou que o PT possui quadros que podem contribuir com a gestão, e reafirmou o interesse em continuar seu mandato.
Outro nome levantado para a Educação foi o da deputada estadual Débora Almeida (PSDB), que manteria os tucanos na gestão mesmo após uma mudança de partido.
Vale lembrar, ainda, que o antigo titular da pasta, Alexandre Schneider, é ligado ao presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Contemplar a aliança novamente pode não estar fora dos planos.
Outra vaga no secretariado é na pasta de Esportes, recém-desmembrada da Educação. Nos bastidores, especula-se que o novo secretário será indicado pelo deputado federal Mendonça Filho (UB).
PSD nacional
O fisiologismo do partido de Kassab torna seus planos para 2026 ainda imprevisíveis. O PSD tem três ministérios no Governo Lula e tem sido sondado no Palácio do Planalto para ocupar a vice-presidência na próxima eleição, mas ameaça deixar a gestão caso não ganhe pastas com maior orçamento na reforma ministerial.
Além disso, Kassab é secretário de Relações Institucionais do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), e já declarou apoio a uma possível candidatura dele à presidência, apesar do paulista reforçar o interesse na reeleição. Ainda, considera lançar uma candidatura única com o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD). Ambos os nomes são ligados ao bolsonarismo fora do PL.