Analistas do mercado financeiro avaliam que o Banco Central terá que fazer um ajuste monetário mais duro para compensar os efeitos inflacionários da falta de compromisso com a responsabilidade fiscal mostrada pelo governo. Após a declaração de Paulo Guedes em favor da alteração no teto de gastos, bancos e corretoras elevaram as previsões para a alta da taxa básica de juros (Selic), que será decidida na próxima semana. Já se fala em uma elevação de, no mínimo, 1,5 ponto percentual, o que levara a Selic para 7,75% ao ano. As estimativas para o dólar também continuam subindo.
Especialistas não descartam que, até o fim de 2021, o dólar possa chegar a R$ 6,50 e a Selic, a 11,5% ao ano, conforme apurou o Blog do Vicente. Guedes também vem sendo criticado por não adotar uma postura transparente. “Depois que o país soube que o ministro tem dinheiro em offshore no exterior, é evidente que ele está fazendo política econômica para ganhar dinheiro”, disse uma fonte da Esplanada que é bastante crítica ao governo.
“O governo está deixando nas mãos do Banco Central a responsabilidade do ajuste da economia. O Brasil está com problemas fiscais sério, está perdendo a âncora fiscal, e o governo quer jogar o peso do ajuste para o Banco Central”, avaliou Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos.
Velho prevê alta de 2 pontos percentuais da Selic na próxima reunião do Copom. José Francisco Lima Gonçalves, do Bando Fator, acredita que o colegiado fará duas elevações seguidas de 1,5 ponto percentual na Selic nas próximas reuniões. “A inépcia do governo no trato de suas promessas e dívidas justifica atualizações quase diárias nas projeções de variáveis sujeitas a expectativas de curto prazo. Uma alta de 150 pontos na Selic no próximo Copom pode colocar o comitê à frente da curva. E, com algum tempero no comunicado, reduzir as taxas curtas”, escreveu, em nota a investidores.
Conforme dados do Banco Central, cada ponto percentual a mais na taxa Selic provoca aumento de R$ 31,8 bilhões na dívida pública bruta. Atualmente, a Selic está em 6,25% ao ano. Logo, se a previsão de Gonçalves for concretizada, implicará em R$ 95,4 bilhões a mais por ano na despesa de juros com dívida , que somou R$ 6,8 trilhões em agosto — o equivalente a 82,7% do Produto Interno Bruto.
Correio Braziliense