O presidente Jair Bolsonaro ampliou o processo de fritura da secretária especial da Cultura, Regina Duarte, ao interferir novamente em nomeações da pasta. Após repercussão, ele recuou de uma delas.
Nesta terça-feira, o maestro Dante Henrique Mantovani foi devolvido à presidência da Funarte, a Fundação Nacional de Artes. No início da noite, o presidente tornou a nomeação sem efeito.
Mantovani havia sido exonerado por Regina em março, logo após sua posse. Antes, ele havia associado o rock ao satanismo e ao aborto.
Ao renomear Mantovani, apesar do recuo, Bolsonaro quer manter a força da ala ideológica no governo e, consequentemente, a militância bolsonarista aguerrida nas redes sociais.
Como mostrou a Folha de S.Paulo na semana passada, Bolsonaro deu aval para aliados criticarem publicamente Regina, numa provável tentativa de forçar a atriz a deixar o cargo.
Ele, contudo, não pretende demitir a atriz nos próximos dias. Bolsonaro deverá repetir o processo de fritura e desgaste que já fez com diversos ex-aliados como os ex-ministros Gustavo Bebianno, Sergio Moro e Ricardo Vélez.
O objetivo do presidente, segundo aliados, é ampliar o espaço dos ideológicos.
Dessa forma, ele mantém por perto os grupos que considera mais fiéis – os militares, ocupantes de postos-chave no primeiro e segundo escalões, e os olavistas, para manter a ideia de “guerra cultural”.
Ainda nesta terça-feira, outro movimento do Palácio do Planalto foi feito.
A pedido do presidente, o ministro Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo, promoveu Luciano da Silva Barbosa Querido, ex-assessor do vereador Carlos Bolsonaro, do Republicanos, a diretor-executivo da Funarte. Essa nomeação foi mantida.
Do lado de Regina, alguns aliados tentam minimizar a crise e dizem que ela não foi pega de surpresa com mudanças na Funarte, mas sim avisada desde a semana passada.
Contudo, segundo relatos feitos à reportagem, ela não teve qualquer papel de decisão na recondução já abortada de Mantovani. A atriz pretendia indicar o produtor de teatro Humberto Braga para o cargo, mas a nomeação de Braga foi barrada no Planalto.
Mantovani chegou a dizer à coluna Mônica Bergamo que pretendia ser recebido por Regina para uma conversa.
“Tentei, tentei, tentei. Durante mais de um mês, procurei ela, pedi um encontro para explicar que minhas falas [sobre rock] foram descontextualizadas. E nada. Fui impedido de entrar no Palácio do Planalto na posse dela e exonerado no mesmo dia”, disse o maestro.
Na semana passada, depois de a Folha de S.Paulo publicar que Bolsonaro dera aval para o desgaste de Regina, o presidente reclamou publicamente da distância da secretária.
Bolsonaro disse que Regina estava tendo dificuldades em se desvencilhar de nomes de esquerda da Cultura.
Desde o fim de março ela estava em São Paulo, para onde viajou ainda nos primeiros dias de pandemia.
Numa tentativa de reverter a situação, a atriz desembarcou em Brasília durante o fim de semana. Sua equipe busca marcar um encontro com Bolsonaro, mas ainda não há data para que isso aconteça.
Regina vem dizendo a aliados que não irá se demitir e que pretende ser resiliente.
Ela se apressa agora para tentar publicar um decreto de reestruturação da pasta, encomendado por sua equipe ao Planalto desde que ela assumiu, em março.
Na semana passada, diante das críticas públicas de Bolsonaro, o ministro Álvaro Antonio, a quem Regina é formalmente vinculada, esteve com o presidente para pedir que a atriz permanecesse.
A secretária e o ministro mantêm uma relação cordial e relativamente próxima.
Ele, contudo, não tem barrado as indicações pedidas pelo Planalto, à revelia de Regina. E pessoas próximas ao ministro dizem que, se Bolsonaro pedir, ele pode demitir a atriz da Cultura, ainda que esse cenário não seja vislumbrado neste momento.
Folhape