O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pousou com dois helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira), na manhã deste sábado (6), na BR-020, em Planaltina (DF), a 52 km do centro de Brasília, para, por mais de uma hora, acompanhar uma blitz da PRF (Polícia Rodoviária Federal).
Sem máscara e acompanhado pelo pastor Silas Malafaia e alguns de seus ministros, ele foi indagado por jornalistas, quando se aproximou de um aglomerado de pessoas para fazer fotos, sobre os mais de 35 mil mortos em decorrência do coronavírus e a respeito das mudanças na divulgação dos dados nacionais sobre a Covid-19.
Apesar de ter olhado para os repórteres no momento das perguntas, ele não respondeu.
Depois de dois dias seguidos de recordes, o Brasil registrou 1.005 novas mortes por coronavírus na sexta-feira (5), segundo dados do Ministério da Saúde. O total de óbitos é de 35.026.
Na sexta, a divulgação dos dados sofreu atrasos pelo terceiro dia seguido. Antes feita às 19h, só ocorreu às 22h. Horas antes, Bolsonaro defendeu o atraso da divulgação dos boletins do Ministério da Saúde e disse que, com a mudança de horário, “acabou matéria no Jornal Nacional”. Ele também se referiu à Rede Globo, que veicula o Jornal Nacional, como “TV funerária”.
A Globo divulgou uma nota sobre as declarações de Bolsonaro, lida na edição do Jornal Nacional. Após a divulgação dos dados pelo ministério, já depois do fim do Jornal Nacional, o Plantão da Globo, com o apresentador William Bonner, entrou no ar durante a novela das 21h. O site do Ministério da Saúde que apresentava os dados sobre a doença estava fora do ar ao menos até a publicação desta reportagem.
No Twitter, o presidente disse que o Ministério da Saúde “adequou a divulgação dos dados”. Segundo o presidente, para evitar subnotificação e inconsistências, o ministério optou pela divulgação às 22h. “A divulgação entre 17h e 19h, ainda havia risco subnotificação. Os fluxos estão sendo padronizados e adequados para a melhor precisão”, justificou Bolsonaro na rede social.
Depois de pouco mais de uma hora na blitz, Bolsonaro voltou ao helicóptero com destino ao Forte Santa Bárbara, em Formosa (GO), onde, segundo ele disse no dia anterior, iria “dar uns tiros”.
Bolsonaro pousou na margem da rodovia às 9h20. Uma grande blitz estava montada no local, mas, durante a permanência do presidente, até as 10h35, os policiais rodoviários não pararam nenhum veículo para revista.
No acostamento no sentido a Brasília, Bolsonaro tirou fotos com policiais rodoviários federais e gravou vídeos a pedido dos agentes. A imprensa foi mantida a alguns metros de distância. Muitos motoristas de carros e caminhões buzinavam ao passar pelo presidente. A Folha ouviu os integrantes de apenas um veículo criticarem o presidente, chamando-o de genocida e fascista.
Com a presença de Bolsonaro, alguns carros pararam no acostamento após o bloqueio da PRF. Motoristas e passageiros se aglomeraram e o presidente foi até eles. Pegou uma criança no colo, abraçou e fez selfies com apoiadores. Alguns, assim como Bolsonaro, estavam sem máscara.
No sábado anterior (30), Bolsonaro já havia acompanhado uma operação da PRF em Goiás. Assim como neste fim de semana, o compromisso não aparece na agenda oficial do presidente. No fim de maio, Bolsonaro trocou o comando da PRF. Saiu Adriano Marcos Furtado e assumiu Eduardo Aggio de Sá.
Em reunião ministerial no dia 22 de abril, Bolsonaro reclamou da divulgação de uma nota oficial da PRF que lamentava a morte de um integrante da corporação por coronavírus. No dia anterior, a PRF havia divulgado uma manifestação de pesar pela morte de Marcos Roberto Tokumori, 53, ocorrida naquela madrugada. Ele atuava em Santa Catarina.
A nota oficial informava que a morte ocorrera devido à Covid-19. “A doença, a Covid-19, não escolhe sexo, idade, raça ou profissão”, disse a nota, assinada pelo diretor-geral da PRF, Adriano Furtado. “Contra ela, Marcos lutou bravamente”, ressaltou. Segundo relatos feitos à Folha de S.Paulo, Bolsonaro criticou na reunião de 22 de abril o tom da nota, alegando que poderia assustar as pessoas e que não levava em conta possíveis comorbidades de Tokumori.
Esta reunião foi gravada em vídeo e o ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), decide nesta sexta-feira sobre dar ou não publicidade ao material.
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