Hoje, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) promove uma reunião com a cúpula dos Poderes no Palácio da Alvorada. O encontro servirá para discutir as medidas de combate à pandemia da Covid-19 e são esperados integrantes tanto do Legislativo quanto do judiciário. A agenda é vista com ceticismo por membros dos demais poderes. O intuito de Bolsonaro é usar o encontro para anunciar medidas de saúde que envolvam todo o poder público, como a criação de um gabinete de emergência, e tentar reverter o desgaste de imagem de seu governo com a escalada de mortes.
O presidente tem apostado em uma retórica moderada, dando a entender que a chegada de um novo ministro da Saúde marca uma nova fase de sua gestão. A nova roupagem, porém, é avaliada nos bastidores, por integrantes do STF e do Congresso, como pouco convincentes. Eles lembram que, apesar de ter adotado um discurso pró-vacina e aceitado mudar o comando do Ministério da Saúde, Bolsonaro segue fazendo críticas a medidas de restrição social e, no último domingo (21), ao promover nova aglomeração, voltou a sugerir o uso das Forças Armadas para garantir a liberdade da população.
Na avaliação do cientista político e historiador, Alex Ribeiro, “existem duas visões a respeito da reunião”. “A primeira é que, no cenário da maior crise sanitária da história, o encontro entre os poderes não deveria ser surpresa. Pois são necessárias medidas em conjunto diante do atual cenário da disseminação da covid no país. No entanto, o que causa estranhamento é a demora dessa reunião. As medidas descentralizadoras comprovam que não está sendo eficaz no combate à pandemia. O segundo ponto é que a reunião convocada pelo presidente é mais um aceno para os agentes públicos do que para a população. Sua base eleitoral continua significativa mesmo com a crise”, disse.
Na avaliação da cientista política Priscila Lapa, a pressão sobre o presidente pode não ser suficiente para ele realmente voltar atrás e assumir um outro papel. “Numa única vez, numa reunião com os governadores, por exemplo, ele parecia outro Bolsonaro. Com um tom de mais conciliação, mas isso dura poucos momentos. No momento da reunião, eu acredito, ele vai ter um pouco mais de tentativa de chegar a algum entendimento, porque a pressão é gigante. Agora, não significa que isso vai representar alguma mudança clara na estratégia discursiva dele. Não vai porque senão ele vai perder o apoio desse núcleo duro que até agora o seguiu. E, ele não tá falando para um vazio. O que Bolsonaro tem dito sobre a pandemia, para uma parte da população faz sentido”, explica a especialista.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também deve ir ao encontro. A articulação para a reunião partiu de Bolsonaro, em uma resposta à escalada da pressão sobre o governo por causa do descontrole da pandemia no país, com um número de mortos que se aproxima rapidamente de 300 mil.