O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, enfraquecido pelos pedidos de demissão de 15 integrantes de seu governo, em um contexto de crescentes escândalos, afirmou nesta quarta-feira que pretende permanecer no cargo, apesar das dificuldades.
Na sessão semanal de perguntas no Parlamento, ele fez uma defesa caótica de suas conquistas desde que assumiu o porto de chefe de Governo há três anos e citou os problemas que ainda deseja solucionar, como a crise do custo de vida no Reino Unido.
“O trabalho de um primeiro-ministro em circunstâncias difíceis, quando você recebeu um mandato colossal, é continuar e é isto que vou fazer”, disse Johnson.
O líder da oposição, o trabalhista Keir Starmer, o acusou de apresentar um “espetáculo patético no último ato de sua carreira política”.
Na terça-feira à noite, os ministros da Saúde, Sajid Javid, e das Finanças, Rishi Sunak, anunciaram quase ao mesmo tempo os respectivos pedidos de demissão. Eles foram seguidos por mais de 15 integrantes do governo, de menor escalão, em uma sangria que prosseguiu nesta quarta-feira com vários secretários de Estado.
Vários membros do governo, de menor escalão, seguiram o exemplo, em uma sangria que continuou na manhã desta quarta-feira.
Entre os pedidos de demissão está o do secretário de Estado para a Infância e a Família, Will Quince. Ele afirmou que “não tinha outra opção” depois de ter apresentado à imprensa informações proporcionadas pelo gabinete de Johnson “que se revelaram inexatas”.
Outros membros do Executivo, fiéis a Johnson, defenderam o balanço político do líder conservador, que durante a tarde deve comparecer ao denominado “Comitê de Ligação”, formado pelos presidentes das diferentes comissões parlamentares e responsável por examinar o trabalho do governo.
Entre os integrantes do comitê estão alguns dos maiores críticos de Johnson dentro do Partido Conservador.
“Integridade” do governo
As renúncias de Javid e Sunak, dois pesos pesados do governo e do partido, aconteceram poucas horas depois de Johnson apresentar desculpas pela enésima vez, ao admitir que cometeu um “erro” por ter nomeado para um cargo parlamentar importante Chris Pincher, um conservador que renunciou na semana passada e reconheceu que apalpou, quando estava embriagado, dois homens, incluindo um deputado, em um clube privado do centro de Londres.
Depois de afirmar o contrário em um primeiro momento, Downing Street reconheceu na terça-feira que o primeiro-ministro havia sido informado em 2019 sobre acusações anteriores contra Pincher, mas havia “esquecido”.
A renúncia de Rishi Sunak, de 42 anos e de origem indiana, acontece em um momento econômico difícil, com o custo de vida cada vez maior no Reino Unido e com acusações de que o governo não faz o suficiente para ajudar as famílias em dificuldades.
Os britânicos esperam que o governo se comporte de maneira “competente e séria, e é por isto que peço demissão”, escreveu Sunak em sua mensagem a Johnson.
Javid, de 52 anos e de origem paquistanesa, afirmou que os britânicos precisam de “integridade por parte de seu governo”.
Manobra contra Johnson
Desde o denominado “partygate”, o escândalo pelas festas organizadas em Downing Street que desrespeitaram as regras anticovid em 2020 e 2021, até o financiamento irregular da reforma luxuosa de sua residência oficial, passando por acusações de designações duvidosas, os escândalos não param de crescer ao redor de Johnson.
Grande vencedor das eleições legislativas de dezembro de 2019, quando conseguiu a maioria conservadora mais importante em décadas graças à promessa de concretizar o Brexit, o primeiro-ministro perdeu grande parte da popularidade.
As pesquisas mostram que a maioria dos britânicos o considera um “mentiroso”.
Johnson será investigado por uma comissão parlamentar para determinar se enganou de maneira consciente os deputados quando, em dezembro, negou as festas que foram organizadas durante os confinamentos.
E o fato de ter afirmado que não sabia das acusações contra Pincher quando muitos alegaram o contrário e de ter reconhecido o “esquecimento” reforça as acusações de que o primeiro-ministro brinca com a verdade.
Derrotas eleitorais recentes, como a de 23 de junho em duas legislativas parciais, estão convencendo um número crescente de rebeldes dentro do Partido Conservador de que Johnson não pode mais liderar o partido nas eleições gerais previstas para 2024.
O primeiro-ministro sobreviveu no início de junho a um voto de desconfiança, uma iniciativa de rebeldes do partido para tentar afastá-lo do poder.
Apoiado por 211 dos 359 deputados conservadores, Johnson conseguiu permanecer no cargo, mas os 148 votos contra ele deixaram evidente o descontentamento interno.
As regras do partido estabelecem que este procedimento não pode ser repetido durante 12 meses, mas muitos conservadores querem uma mudança para voltar a tentar a manobra contra Johnson.
AFP