O deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) chamou o colega Nikolas Ferreira (PL-MG) de “moleque de quinta série” nesta quarta-feira (8/3). A crítica foi feita horas após o parlamentar mineiro utilizar o plenário da Câmara dos Deputados para fazer um discurso transfóbico.
“Não é brincadeira ou opinião política. É crime. E assim tem de ser tratado. É inadmissível que tenha deputado nesta Casa que se comporte como um moleque de quinta série e não esteja à altura do Parlamento Brasileiro”, disse. “É inadmissível que tenha deputado, nesta Casa, que propague a intolerância e não tenha a capacidade básica de respeitar”, completou.
Com uma peruca loira, Nikolas ironizou mulheres trans, disse se “sentir mulher” e se intitulou “deputada Nikole”. Durante o discurso com teor preconceituoso, o apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a afirmar que “mulheres estão perdendo seu espaço para homens que se sentem mulheres”.
Deputada trans, Duda Salabert (PDT-MG) não citou diretamente Nikolas, mas pregou respeito e lembrou os bons desempenhos que teve nas eleições de 2020 e 2022.
“Digo para esses fascistas que querem ridicularizar que somos do tamanho do nosso desejo e dos nossos sonhos. Se vocês desejam e sonham mais engajamento e likes na rede social, desejamos e sonhamos com uma sociedade construída, que respeite a diversidade e promova a justiça social. Vocês, fascistas, perderam nas urnas e estão perdendo na política. Seu ódio não foi capaz de frear que a deputada federal mais votada da história de Minas e a vereadora mais votada da história de Belo Horizonte é uma travesti”, ressaltou.
As falas geraram indignação de deputadas. Tabata Amaral anunciou que o PSB, partido dela, vai entrar com uma representação contra Nikolas no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. A ideia é pedir a cassação dele. Congressista trans e correligionária de Boulos, Érika Hilton afirmou que o Psol pretende endossar a reivindicação e, além disso, enviar notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF).
“A estratégia dos bolsonaristas e transfóbicos é antiga: usam nossas vidas de escada para se construir”, criticou.
Além de Érika, há outra deputada trans na Câmara: Duda Salabert (PDT-MG). Duda, aliás, compõe a Mesa Diretora responsável por conduzir a sessão de hoje, marcada pela defesa das mulheres em virtude do 8 de março.
Deputada mineira diz que Nikolas é ‘palhaço’
Integrante da bancada mineira na Câmara assim como Nikolas, Ana Pimentel (PT) chamou o colega de “palhaço”.
“É inadmissível que a tribuna da Câmara dos Deputados aceite ser o circo. Me indigna ver homens usando uma data tão importante de luta para todas nós mulheres para despejarem sua transfobia e espalhar seu preconceito. Um deputado que desrespeita a tribuna que ocupa certamente não sabe o que está fazendo no cargo que pleiteou”, indignou-se.
Dagoberto Nogueira (PSDB-MS), por sua vez, pediu “providências enérgicas” ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). “Como vamos querer o respeito do povo se nós mesmos não nos respeitamos aqui?”, perguntou.
Nikolas se defende de queixas formais
Logo após Tabata Amaral tornar pública a intenção do PSB de pedir sua cassação, Nikolas Ferreira recorreu à Constituição Federal para tentar se defender.
“Pelo artigo 53 da Constituição, os deputados são invioláveis civil e penalmente por quaisquer palavras, votos e opiniões. Ou vamos dar a liberdade plena para que a gente consiga exprimir nossas opiniões – caso contrário, fecha tudo isso aqui e deixa só a esquerda. Não precisa mais ter diálogo. Tudo é cassação”, afirmou.
Estado de Minas