Brasil está equipado para lidar com questões hídricas, diz ministro Sarney Filho

Agência Brasil

O 8º Fórum Mundial da Água, maior evento mundial sobre o tema que ocorrerá entre os dias 18 e 23 de março em Brasília, vai trazer para o Brasil experiências de vários países para o uso racional da água. Ao mesmo tempo, o Brasil terá a chance de mostrar aos representantes desses países suas próprias experiências, muitas delas bem-sucedidas. Essa é a expectativa do ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho.

Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, ele reafirmou que o fórum será uma oportunidade para o Brasil esclarecer qualquer dúvida da comunidade internacional sobre a gestão da água em nosso território.

Veja abaixo a entrevista:

Ministro, o que o governo espera do 8º Fórum Mundial da Água?

José Sarney Filho: Bem, a ideia do fórum não é uma ideia de governo. É uma ideia da sociedade civil. E o mais importante é que esse fórum vai trazer para cá os maiores especialistas do mundo em recursos hídricos. Isso vai nos dar uma grande oportunidade de discutir a questão hídrica global, porque o fórum será realizado em um país das dimensões do Brasil, um país que é detentor da maior quantidade de água doce – que está concentrada na Amazônia. Vai nos dar, sim, a oportunidade de conhecer alguns exemplos e acolher algumas propostas que certamente vão ajudar a gente a enfrentar essa crise hídrica, que é global, oriunda das mudanças climáticas. E aqui no Brasil, o maior efeito das mudanças climáticas se deu na água. Então, tivemos a maior seca da história do Nordeste e que está acabando agora. Temos uma crise hídrica em Brasília, que ainda está fazendo o racionamento. E há pouco tempo, tivemos uma crise hídrica na maior metrópole da América do Sul, São Paulo, o que obrigou o governo a fazer o racionamento. Então, essas questões nos preocupam e certamente a partir de um fórum sobre o tema, com esse nível de participação, com essa quantidade de especialistas, nós vamos poder, sim, acolher algumas sugestões, alguns estudos que certamente vão nos ajudar a organizar a gestão, a prever e combater a crise hídrica.

O senhor tem dito, em algumas ocasiões, que o problema da água não está nos reservatórios, mas nas nascentes dos rios. O que o governo brasileiro tem feito para proteger essas nascentes?

José Sarney Filho: Em primeiro lugar, não dá para dissociar água de floresta. Então, a primeira coisa que o governo brasileiro já fez e tem para apresentar é a diminuição do desmatamento na Amazônia. A Amazônia não é só um estoque de recursos para combater os gases do efeito estufa, ela não é só uma incomensurável possibilidade de cura, mas ela é também produtora de água. É como se fosse uma bomba que espalha água para o resto do continente, o que também ajuda a diminuir a temperatura global. A umidade que vem do oceano é retida e ampliada pela floresta, depois os ventos batem nos Andes e espalham essa umidade para o resto do continente. São aqueles famosos “rios voadores”. Esse é um ponto importante. Nós conseguimos recuperar os serviços ambientais que estavam ficando ameaçados pelo desmatamento na Amazônia.

A redução do desmatamento não é capaz sozinha de melhorar a gestão da água, quais outras medidas têm sido adotadas?

José Sarney Filho: Alem disso, é lógico, agora temos também as regras para a outorga do uso da água, exigências que dizem respeito à recuperação da bacia. Antigamente, a gente se preocupava apenas com a qualidade da água. Hoje a gente tem que se preocupar também com a quantidade de água. Por isso, é importante esse projeto do governo de revitalização do Rio São Francisco, que será lançado pelo presidente Michel Temer que trata da recarga de água, e então vamos recuperar nascentes, matas ciliares. E vamos fazer isso também com o Rio Parnaíba. Porque o São Francisco e o Parnaíba são os dois maiores do semiárido nordestino e, portanto, a sua revitalização é importantíssima para aquela região. O Ministério do Meio Ambiente já lançou também o programa chamado Plantadores de Rios que sistematiza toda a distribuição de mudas de tal forma que as mudas sejam plantadas naquelas áreas que são mais necessitadas da recarga de água.

Isso leva a uma outra questão que é o uso da água pela agricultura, que consome um volume muito grande. Como é que se lida com isso?

José Sarney Filho: A outorga do uso da água, desde que respeitada, não apresenta risco. Hoje nós temos a Agência Nacional de Águas, que é uma agência séria, competente, com técnicos altamente qualificados e ela só concede a outorga com a responsabilidade de saber que essa água tem prioridades, para o consumo humano, para o consumo das cidades. Não existe, dentro da legalidade, essa possibilidade [de uso indevido da água], mas é óbvio que a gente sabe que existem aquelas pessoas que não respeitam a lei e tiram água ilegalmente e esse, sim, é um problema para detectar e punir.

O Brasil tem sido alvo de críticas por sua política de preservação do meio ambiente no cenário internacional, com queixas de diversos ambientalistas que irão participar do fórum. O senhor tem receio de que essas críticas dominem os debates do fórum?

José Sarney Filho: Eu quero dizer uma coisa com toda sinceridade: eu estou louco para que eles venham e perguntem sobre a nossa política ambiental. Porque hoje depois de quase dois anos de gestão, nós já recuperamos toda a política ambiental e não há passivo ambiental. Nós vamos cumprir todos os nossos compromissos. Então, é importante que essas pessoas venham com essas ideias, com essa visão, que não é a visão do fato, mas da versão, para que a gente possa demonstrar que o fato é diferente da versão.

O que o senhor espera como contribuição do fórum para o Brasil e do Brasil para o fórum?

José Sarney Filho: É uma discussão técnica, discussão de experiências. Então, vamos acolher muitas experiências de outros países e também vamos mostrar nossas experiências e algumas são muito bem-sucedidas. No que diz respeito à questão hídrica, eu tenho dito, o Brasil está muito bem estruturado com a Agência Nacional de Águas, o Plano Nacional de Recursos Hídricos e os planos estaduais. Eu acredito que hoje nós estamos tecnicamente bem aparelhados para poder através do diagnóstico desses planos poder intervir de maneira que evite uma catástrofe maior.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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