Nos últimos dias, além da pandemia da Covid-19, os brasileiros precisaram lidar com notícias a respeito de uma ameaça de greve por parte dos caminhoneiros. Em Pernambuco, as principais lideranças dos sindicatos descartam a possiblidade de paralisação. Eles relatam, entretanto, dificuldades de condições básicas de trabalho pois muitos estabelecimentos que possuem autorização do estado para funcionar, como mercados, postos de gasolina e borracharias, mantém as portas fechadas. O governo vai disponibilizar, possivelmente ainda hoje, um telefone 0800 para que eles relatem suas dificuldades.
Wilton Nery, presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas do Estado de Pernambuco (Sintracape), afirma disse que há pleitos sobre, por exemplo, abertura de restaurantes nas estradas. Muitos estabelecimentos estão fechados e há escassez no serviço, mas que não há possibilidade de greve. “Espalhar estes boatos, neste momento, é um ato de inconsequência de gente que só quer disseminar o pânico. Não há esta possibilidade”, afirma.
Fernando Campos, presidente da Federação dos Caminhoneiros de Pernambuco (Fetac-PE), reforça a mobilização da categoria justamente pela valorização do trabalho, e não pela paralisação. “Estamos fazendo verdadeiras campanhas motivacionais, mostrando o quanto estes profissionais tem sido verdadeiros heróis, e também iniciamos ações de reforço a questões de higiene”, afirma, enumerando, entretanto, as dificuldades encontradas em tempos de pandemia. “É verdade que, com restaurantes e lanchonetes fechados, muitas vezes, o caminhoneiro acaba almoçando ou jantando um pacote de biscoito. Não é o ideal, mas acontece. Isto é ruim, mas, quanto à alimentação, conseguimos resolver. E quanto, entretanto, à segurança e estrutura? Muitos estão com receio de ir para a estrada, furar um pneu, quebrar uma peça e não ter como consertar, ficando ao relento. Então, não é vontade de paralisar, é buscar dignidade e condições de trabalho para nós mesmos e para o sustento de todos”, relata.
A respeito das reivindicações, o governo informa que equipes do Porto de Suape e da Secretaria de Infraestrutura vem trabalhando para que categoria tenha suporte necessário por meio do Comitê Especial de Abastecimento criado pela administração estadual. Além de articulação local para que restaurantes se mantenham em funcionamento para entrega de quentinhas, evitando aglomerações, equipes do Complexo Industrial Portuário de Suape e da Secretaria de Infraestrutura – que integram o comitê – estão mantendo contato com proprietários de oficinas, borracharias, lojas de peças e serviços, para que a categoria tenha todo o suporte necessário durante as viagens. Há a previsão, ainda, de que um telefone exclusivo para o relato de dificuldades, em Pernambuco, seja disponibilizado ainda hoje.
“Temos feito o possível para que nada falte aos caminhoneiros, essenciais para a logística de abastecimento. Estamos concluindo o processo para ativar um telefone gratuito para ajudá-los a localizar estabelecimentos em funcionamento em Pernambuco, caso tenham dificuldade, e já mapeamos mais de 200 que mantêm suas atividades. Estamos, também, contatando outros para informar que eles não só podem como devem manter o funcionamento, de acordo com decretos do governo do Estado. São restaurantes, lanchonetes, postos de combustível, oficinas, borracharias e lojas de autopeças”, afirma o presidente do Porto de Suape, Leonardo Cerquinho. No Complexo, Suape ainda disponibilizou álcool gel para o Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas do Estado de Pernambuco (Sintracape), suspendeu a biometria temporariamente e vem fazendo orientações no acesso ao porto.
Uma média de 1.500 caminhoneiros circulam por Suape diariamente. Levantamento da Concessionária Rota do Atlântico, responsável pela administração da rodovia de acesso ao ancoradouro, comparou o período 12 a 18 de março com o período de 19 a 25 de março e constatou uma pequena queda de 8% na circulação de caminhões, enquanto a redução dos veículos de passeio foi de 38%.