Caminhoneiros rejeitam acordo com o governo e deixam Casa Civil prometendo reforçar greve

Em meio à crise da alta do preço de combustíveis, representantes de caminhoneiros e transportadores deixaram a reunião na Casa Civil da Presidência da República, nesta quarta-feira (23), dizendo-se insatisfeitos e depois de rejeitar acordo com o governo federal. Ao todo, dez entidades participaram da rodada de negociações e decidiram manter a greve e a onda de bloqueios em estradas que, já em seu terceiro dia, provoca desabastecimento, falta de gasolina em postos, cancelamento de voos em aeroportos e alta de preços de produtos diversos. Um dos participantes da reunião disse à reportagem que, ao invés de diminuir, a tendência da paralisação é aumentar, uma vez que outras categorias devem declarar adesão ao movimento de pressão contra o governo.

Representantes de classe que foram a Brasília para negociar com o Palácio do Planalto cancelaram o retorno para suas bases, diante do impasse, e vão continuar na capital federal para marcar posição. Presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo Silva disse ao Congresso em Foco, depois de deixar a reunião, que já voltou ao hotel em que se hospedara para se preparar para a continuidade das negociações.

“A reunião não teve qualquer resultado. Tivemos três horas de reunião e não chegamos a acordo, porque o que o governo ofereceu nós não aceitamos. Eles queriam que nós pudéssemos ajudar o governo, pediram para os caminhoneiros voltarem ao trabalho para dar [prazo de] uma semana para negociar. Nós falamos: ‘Negativo!’. Estamos há anos discutindo esse problema com o governo e ninguém nunca deu bola. Agora os próprios caminhoneiros pararam”, declarou José Araújo.

A insatisfação foi reverberada por outro dirigente de entidade do setor. “O governo não ofereceu nada. O que o governo fez foi pedir um prazo para nós, para que se posicionassem até as 14h de amanhã [quinta, 24]“, emendou o presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno.

Relator do marco regulatório do transporte rodoviário de cargas, o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) saiu em defesa do governo e disse à reportagem que a crise é passageira. “Vão convocar a diretoria da Petrobras amanhã [quinta, 24] para conversar. Vão tentar fazer alguma redução de alguma coisa. Até essa semana, ainda, o pessoal [representantes de caminhoneiros] fica por aqui”, afirmou o parlamentar paulista, interlocutor dos caminhoneiros com o Planalto.

“Logo em seguida as lideranças dos caminhoneiros vieram para a Câmara. O [presidente da Casa, Rodrigo] Maia já vai pautar a votação de um projeto que já estava aí, de interesse deles. E, na próxima segunda-feira [28], vai ser posto para votação o marco regulatório também. O texto já está pronto para ser votada a quatro, cinco meses”, acrescentou Marquezelli, referindo-se Projeto de Lei 4860/2016, já analisado pela Comissão Especial do Transporte Rodoviário de Cargas e colocado à disposição do plenário.

O petebista disse ainda que, diante da necessidade de superação da crise, gestores terão que fazer concessões. “Com a redução do preço do diesel na Petrobras, já começa a melhorar. O ministro [Eliseu Padilha, da Casa Civil] não tem por que intervir na Petrobras, vai ter que chamar e fazer um acordo com a empresa. Quanto ao ICMS, há que se chamar os governadores e propor uma redução. O ICMS está na mãos dos governadores, e eles vão ter que reduzir um pouco”, finalizou o deputado.

Participaram da reunião, os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, da Secretaria de Governo, Carlos Marun, dos Transportes, Valter Casimiro, e do Gabinete de Segurança Institucional, general Freire Gomes, além do secretário-executivo do Ministério dos Transportes, Gerber Drummond. Entre os deputados federais, foram à Casa Civil Ricardo Barros (PP-PR), Lelo Coimbra (MDB-ES), Nelson Marquezelli (PTB-SP), Osmar Terra (MDB-RS), Alceu Moreira (MDB-RS), Roberto Balestra (PP-GO), Assis Couto (PDT-PR), Adilton Sachetti (PRB-MT) e Celso Maldaner (MDB-SC).

Além dos políticos, as seguintes entidades se fizeram presentes na reunião, além da Unicom e da CNTA: Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Transporte Forte, Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Cargas de São Paulo (Fetrabens), Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Distrito Federal (Sindicam-DF), Associação Nacional das Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas (NTC & Logística), Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Ijuí (Sinditac-RS) e Sindicato Nacional dos Cegonheiros (Sinaceg).

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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