Investigada por supostamente participar de um esquema que inseriu dados falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) deverá prestar depoimento à Polícia Federal, em Brasília, a partir das 14h desta terça-feira. A parlamentar já negou ter cometido qualquer crime.
No início de agosto, Zambelli foi alvo de busca e apreensão em seu apartamento funcional e em seu gabinete, no Congresso Nacional. Foram cumpridos ainda mandados contra alguns de seus assessores e um de prisão preventiva contra o hacker Walter Delgatti Netto, que confessou ter invadido a plataforma e incluído uma ordem de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
— O que tenho de relação com o Walter é que o conheci, saindo de um hotel. Vivia trocando de telefone, queria falar ao vivo. Nos vimos três vezes e conversamos sobre tecnologia. Uma vez o ajudei a vir a Brasilia, ele disse que teria provas e serviços a oferecer ao PL e o levei a Valdemar da Costa Neto (presidente da sigla), fizemos uma reunião — disse a deputada, na ocasião. — Ele (Delgatti) se ofereceu para participar de uma espécie de auditoria no primeiro e segundo turno das eleições. Ele encontrou Bolsonaro, que perguntou se as urnas eram confiáveis. Nunca mais houve contato entre eles.
Em depoimento, Delgatti Netto disse que Zambelli pediu que ele invadisse as contas de e-mail e o telefone de Alexandre de Moraes. A solicitação teria sido feita durante um encontro na Rodovia dos Bandeirantes, na capital paulista, em setembro de 2022.
À PF, ele disse que só conseguiu acessar o e-mail de Moraes, mas não encontrou nada de comprometedor, e que não obteve êxito ao tentar acessar o celular do magistrado. Ele também alegou ter tentado invadir o sistema de segurança das urnas eletrônicas, mas também sem sucesso. Como prova da relação com a deputada, o hacker entregou extratos de pagamentos bancários que ligariam Zambelli a serviços prestados por ele.
A deputada, que chegou a levar o hacker a reuniões em Brasília, afirmou a interlocutores que sua intenção era discutir a possibilidade de ele integrar uma equipe de consultores contratados para fiscalizar as urnas eletrônicas. A parlamentar levou Delgatti a um encontro com o presidente do PL, Valdemar Costa, na sede do partido, e outro com o então presidente Jair Bolsonaro, no Palácio da Alvorada.
Ao Globo, a assessoria de imprensa da parlamentar informou que o dinheiro repassado pelo ex-assessor da deputada a Walter Delgatti Neto não teve relação com a invasão dos sistemas do CNJ. “As transferências, que totalizaram R$ 10,5 mil, foram feitas para pagar garrafas de uísque. Além disso, a PF não encontrou indícios de que Carla Zambelli soubesse dos ataques ao sistema, ou mesmo sobre as transações entre seu então assessor a Walter”, disse, em nota.
O Globo