
O próximo ano promete movimentar o cenário de comunicação e do marketing político, com eleições gerais para presidente da república, senadores, governadores, deputados federais e estaduais. A inteligência artificial (IA) provavelmente será o grande diferencial das campanhas, como meio para detecção de fake news e monitoramento de redes sociais, além da análise de dados populacionais e tendências entre os eleitores, e a automatização de chatbots para interação com o cidadão, entre outras funcionalidades. Por outro lado, a IA pode ser utilizada para possíveis manipulações relacionadas a privacidade, além da disseminação de deep fakes.
As redes sociais permanecem como cruciais para a consolidação dos candidatos e suas propostas, com os influenciadores fortalecendo seus status de formadores de opinião, seja para o bem ou para o mal. E, infelizmente, as fake news continuam presentes no dia a dia político, impulsionando narrativas mentirosas e que influenciam diretamente o eleitor de todas as classes e níveis de escolaridade. Para o estrategista político Guto Araújo, o discurso antissistema é uma tendência do perfil do eleitor nesse momento e tende a crescer. “Hoje, não se obtém engajamento pelas mensagens com tom de união da sociedade em prol de um bem comum, isso se dá muito mais por aquelas que são gatilhos para o conflito, causando medo, ressentimento e a repulsa nos grandes segmentos do eleitorado”, comenta.
Atualmente, o marqueteiro político é uma figura essencial desse processo, já que um projeto de marketing político eficiente utiliza diversas ferramentas e dados de precisão para construir conceitos e mensagens simples, diretas e eficientes dentro de um cenário político. “Um diagnóstico completo demarketing político utiliza não só dados de pesquisa e ferramentas de comunicação, mas questões que passam pela psicologia, antropologia, história e conhecimento do fluxo de comunicação contemporâneo. Enfim, o papel do estrategista é como o de um maestro que rege uma orquestra”, destaca Guto Araújo, que também é secretário geral do Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP).
Atuando no mercado do marketing eleitoral desde 1998, Guto Araújo é um colecionador de campanhas bem-sucedidas ao lado dos principais nomes de política nacional como Duda Mendonça, João Santana, Paulo Alves, Fernando Barros e Mauricio Carvalho. Para se ter uma ideia, somente com João Santana, atuou em 6 campanhas presidenciais no Brasil e na América Latina, todas vitoriosas, e desde 2016, coordena campanhas em todas as regiões do país. Por isso, é um profissional que sempre está na mira de partidos e políticos para 2026.
Ao contrário de boa parte dos estrategistas que hoje apostam tudo na comunicação digital, Guto Araújo acredita que um equilíbrio bem feito entre os canais de comunicação, é a fórmula ideal para o sucesso de uma campanha. Após muitos anos de experiência no audiovisual, Guto é um entusiasta da televisão, acreditando que a ferramenta ainda tem muita força, mesmo diante das novas tecnologias, uma vez que ainda é muito presente especialmente no segmento acima de 35 anos e para as classes D/E assim como em regiões com menor acesso à internet. “O horário eleitoral gratuito tem sua audiência e impacto no início e no fim da campanha, o que reverbera para outros meios. Mesmo que os estudos recentes apontem a internet como fonte de informação de mais da metade dos brasileiros, mais de 201 milhões de pessoas assistem a TV, o que corresponde a 99,2% da população”, avalia.
Os influenciadores com viés político seduzem o eleitor e trazem “frescor” na disseminação da informação versus os veículos tradicionais, muitas vezes questionados. Porém, trazem um posicionamento muitas vezes embasado em fake news, estratégias apelativas e um modus operandi que em algumas situações culmina em casos criminais. “Lula, na reeleição, em 2006, precisou mostrar o que realizou, o que foi possível devido aos números positivos do mandato. Dilma teve o aval de Lula, o que contribuiu, mas a reeleição foi desafiadora. Mas nesta época ambos não tiveram as fake news como um problema, eram outros tempos, e as redes sociais ainda não eram a potência de hoje, o que facilitou a vitória”, destaca.
Em 2018, o cenário mudou completamente com Bolsonaro na disputa. As redes sociais tornaram-se essenciais na narrativa dos candidatos, o WhatsApp virou protagonista na disseminação de informação – verdadeira ou não -, e influenciadores foram essenciais na construção das personas dos candidatos. A partir dessa transformação, vários políticos que dominam o ambiente digital passaram a se destacar usando, principalmente, o discurso antissistema. “Na eleição presidencial de 2022, a comunicação petista teve que correr atrás dos bolsonaristas nas redes para tentar equalizar minimamente sua desvantagem, mas ao mesmo tempo a televisão e o rádio mostraram sua importância como canhões de mensagens que replicavam conteúdos para as redes e eram igualmente replicadas”, relembra Guto.
Para o especialista, após 20 anos de governos de esquerda e tendo a direita consolidado o papel de oposição, é bem provável que o mesmo discurso “antissistema” volte a ser amplamente utilizado pela direita em 2026. A diferença com relação ao ano de 2018, segundo Guto, ficará no domínio ainda maior das ferramentas digitais, campo no qual o conservadorismo leva certa vantagem, já que foi beneficiado pela sincronia de seu crescimento com o boom digital.
“A esquerda se mostra analógica em vários aspectos”, destaca Guto. “Recentemente, vimos o caso do escândalo das aposentadorias do INSS, a lentidão da resposta oficial, fruto da falta de um diagnóstico de crise de comunicação, sobre um fato já sabido pelo governo desde o ano passado. A direita saiu na frente com mais um vídeo-míssil de Nikolas Ferreira”, complementa. Para Guto Araújo, esse cenário deve repetir-se nas próximas eleições. “Consolidar a eficiência das redes em 2026 será ainda o desafio principal. Quem iniciar o projeto eleitoral antes, estará mais preparado para as eleições e saberá lidar melhor como esse cenário complexo, aumentando as chances de vencer na comunicação”, completa o especialista.