O atual prefeito da cidade e candidato à reeleição, Alexandre Batité, está sendo investigado por firmar contrato milionário para compra de 200 kits de robótica para as escolas de São Bento do Una. O valor da aquisição é de mais de R$ 2,74 milhões.
Em junho de 2023, a Prefeitura de São Bento do Una realizou uma licitação para contratação de “Oficinas de Aprendizagem Criativa Maker (Kits)”. A Prefeitura estipulou um prazo restrito de oito dias para apresentação de propostas, apesar da complexidade do objeto. Este é o prazo mínimo estabelecido pela Lei. Uma única empresa se habilitou, ganhando o processo de quase 3 milhões de reais.
A despeito da pressa em selecionar a empresa, a Prefeitura nunca firmou contrato para entrega das oficinas/kits. Apenas um ano depois, já em período eleitoral, o contrato milionário foi firmado.
Cada “kit” custou um total de R$ 9.500 reais. Como a Prefeitura decidiu pela compra de 200 kits, só os kits custaram R$ 1,9 milhão. No contrato, estão previstas ainda a compra de 600 livros didáticos para alunos, 40 livros para professores e de materiais para a construção de 4 laboratórios.
Na época em que o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Polícia Federal (PF) apuram o desvio de mais de R$ 26 milhões em recursos federais para compra de kits de robótica para municípios de Alagoas e Pernambuco, o TCU investigou os parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Educação (MEC) para a compra dos kits.
Segundo o MEC, uma dada rede de ensino fundamental deveria comprar apenas 10 unidades de kits, o suficiente para atender uma sala inteira de 40 estudantes, na medida em que as turmas não utilizariam o mesmo material ao mesmo tempo. O valor total da licitação sugerida pelo MEC era de cerca de 176 mil reais. No final do processo a Prefeitura de São Bento do Una comprou 20 vezes mais unidades de kits do que o sugerido pelo Ministério da Educação.
Levantamento recente do preço de itens iguais ou similares no Portal de Compras Públicas traz suspeitas para a compra da Prefeitura de São Bento do Una. No dia 19 de junho deste ano, a Prefeitura de Timon, no Maranhão, comprou o mesmo kit por R$ 183 cada, totalizando R$ 2.749 por 15 kits. Em janeiro, a Prefeitura de Porto Belo-SC comprou itens similares ao valor de R$ 230, por kit, totalizando R$ 16 mil por 70 kits. Em agosto deste ano, a Prefeitura de Magalhães Barata-PA comprou 32 kits iguais por R$ 2.557 cada, totalizando R$ 81,8 mil. Em São Bento do Una, o que assusta não é só a quantidade (200), mas o valor praticado pela Prefeitura, que foi de R$ 9.500,00.
IMPORTANTE – Segundo a última edição do Censo Escolar, do INEP/MEC, o município de São Bento do Una tem responsabilidade sob 25 escolas, com a maioria delas, 13, se situando na zona rural. É importante destacar que a Prefeitura decidiu comprar R$ 3 milhões em kits de robótica quando as escolas não têm nenhum laboratório de ciências, materiais pedagógicos e científicos ou laboratórios de informática. Agrava a situação que a maioria das escolas da zona rural convivem com esgoto em fossa comum. Apenas 23% delas têm acesso a água da rede pública. Em realidade, muito menos que a metade das escolas têm acesso à internet, algo essencial para a utilização dos kits.
Segundo consta no Portal da Transparência, a Prefeitura decidiu começar a pagar apenas no período eleitoral, no dia 29 de agosto deste ano, mesmo com o contrato tendo sido firmado em junho. Já foram pagos cerca de 556 mil reais a esta empresa suspeita. Importante ressaltar que por se tratar de um órgão público, não se pode ocorrer pagamento antecipado, sob pena de violação da Lei nº 4.320/1964 (Lei de Finanças Públicas). A legislação estabelece que as Prefeituras só desembolsam os pagamentos após o recebimento dos itens ou após os serviços ou obras ocorrerem.