Raphael Guerra/Jornal do Commercio
Investigação conduzida pela Polícia Federal em Pernambuco revela o rápido crescimento de receita de uma empresa especializada em clube de tiro e na produção de vídeos no YouTube com conteúdos voltados para propagadas de armas de fogo.
A empresa Shop do Atirador, que tinha o endereço-sede no município de Caruaru, Agreste de Pernambuco, somava R$ 391 mil na conta bancária em 2018. Já em 2021, o valor acumulado chegou a mais de R$ 60 milhões.
Em duas fases, a operação Zona Cinza cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão entre outubro e dezembro de 2022. Cerca de 3 mil armas e munições foram apreendidas, segundo a Polícia Federal.
A investigação começou em outubro de 2021, após a Delegacia de Polícia Federal em Caruaru receber a informação de que um clube de tiro e uma loja de armas pertencentes ao mesmo grupo estariam ministrando cursos, prestando serviços de conserto, manutenção e customização de armas de fogo, executados por pessoas sem licença da Polícia Federal para atuarem como armeiros.
Além disso, a empresa também estaria produzindo documentos ideologicamente falsos em nome de armeiros legalmente credenciados, mas que não mantinham vínculo com essas pessoas ou empresas.
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Apesar de atuar principalmente em Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe (também no Agreste de Pernambuco), a empresa também tinha ligações com clubes de tiro em Alagoas e em São Paulo.
De acordo com a Polícia Federal, o público-alvo da empresa eram os CACs (Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores) – atraídos por meio de propaganda massiva em redes sociais, como vídeos publicados em um canal no YouTube, que contava com 97,2 mil inscritos e mais de 11 milhões de visualizações.
O empresário Diego de Almeida Soares, apontado pelo Ministério Público Federal como o líder do esquema criminoso de comércio e porte ilegais de arma de fogo, foi preso preventivamente.
Ele e mais oito acusados viraram réus na Justiça Federal e respondem por crimes como falsidade ideológica, uso de documento falso e a conduta de oferecer e executar serviços de armaria clandestina – crime hediondo equiparado ao comércio ilegal de arma de fogo.
Na semana passada, em decisão unânime, a Quinta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) negou o pedido de habeas-corpus e manteve a prisão preventiva do empresário.
A relatora da decisão, a desembargadora federal Joana Carolina, citou que “há farta documentação de que Diego Soares estruturou as pessoas jurídicas por ele comandadas de modo que formalmente não apareça como principal sócio”.
Segundo ela, no inquérito policial “é possível verificar que Diego Soares figura no quadro societário da pessoa jurídica Shop do Atirador com apenas 1% do capital social, ao passo que sua mãe figura com 99%”.
“Esse grande incremento de circulação de dinheiro revela o potencial nefasto que a propagação de falsos potes de arma de fogo justificados pelas pessoas jurídicas por ele comandadas ocasiona no público em geral, provocando uma corrida para aquisição de arma de fogo na ilusão da legalidade promovida pelas pessoas jurídicas”, citou a relatora no voto contrário à liberdade do empresário.
Por fim, a desembargadora federal destacou que o oferecimento da denúncia pelo Ministério Público Federal não significa que a investigação tenha se encerrado e todas as ramificações do grupo criminoso tenham sido descobertas.
“Não se pode atestar que, em liberdade, o paciente (empresário) não voltaria a delinquir, máxime à vista da elevada lucratividade propiciada pela atividade”, afirmou.
A defesa do empresário não foi encontrada para comentar o assunto. O espaço está aberto.
CLUBES DE TIRO SERÃO FISCALIZADOS
A multiplicação dos clubes de tiro no País, impulsionada pelos decretos que flexibilizaram as regras para posse e porte de armas no governo Bolsonaro, preocupa as polícias e os especialistas em segurança pública pelo perigo do aumento da criminalidade.
Antes mesmo de tomar posse como ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Lula, Flávio Dino reforçou que os clubes de tiro seriam fiscalizados e regulados.
“Os clubes de tiro têm que ser regulados, com uma regulação firme e clara: fixar horários, cadastro público de quem frequenta, colocar fim ao funcionamento 24 horas, porque isso não faz sentido e é perigoso para a sociedade”, defendeu.