A passagem de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) por Nova York, nos Estados Unidos, acabou marcada por agressões verbais e ofensas proferidas por brasileiros em direção a eles. Os ataques aconteceram pouco mais de duas semanas após o presidente Jair Bolsonaro (PL) perder a reeleição e ser derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno da eleição nacional. Em alguns dos vídeos retratando as hostilidades, é possível ver pessoas vestidas de verde e amarelo – cores que marcaram a campanha bolsonarista – e cartazes com pedidos por intervenção das Forças Armadas no processo eleitoral.
Um dos alvos foi Alexandre de Moraes, integrante da Suprema Corte e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Atacados, também, os ministros Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski. Michel Temer (MDB), ex-presidente da República, foi outro a receber xingamentos. Eles estão em solo estadunidense para participar, nesta segunda-feira (14/11), de uma conferência organizada pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide). Economia e democracia estão entre os temas do evento.
Os ataques a Moraes ocorreram nesse domingo (13). Ele foi abordado por compatriotas dentro de um restaurante em Nova York e acusado de “gastar o dinheiro do povo brasileiro”. As ofensas continuaram na parte externa do estabelecimento, com termos como “ladrão” e “vagabundo”, além de palavrões.
Bolsonaristas que moram no município estadunidense organizaram um ato em frente ao hotel que abriga Moraes. Lá, com gritos de “Ei, Xandão, seu lugar é na prisão”, pediram “socorro” ao Exército.
Ameaças a Gilmar, Lewandowski e Barroso
Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes foram acossados por brasileiros enquanto deixavam o hotel que os abriga e se dirigiam a uma van. “O que é seu está guardado”, disse um homem, para Gilmar. Chamado de “cachorro do governo”, Lewandowski também foi interpelado em tom ameaçador. “O fim está chegando”, afirmou, em direção a ele, um cidadão.
“Agressão não encontra abrigo na Constituição, é lamentável”, protestou Gilmar Mendes, ao ser questionado sobre as ofensas.
A conferência ocorre no New York Harvard Club, que fica a poucos metros do hotel que sediou os protestos contra os ministros, no centro de Manhattan. O Grupo Lide chegou a pedir apoio à polícia da cidade, que enviou duas viaturas para a porta da hospedaria. Não houve outros incidentes.
Barroso não foi incomodado no hotel, mas recebeu abordagem agressiva de uma mulher enquanto caminhava pela Times Square, tradicional ponto turístico de Nova York. Ela gravou toda a cena, que se espalhou nas redes sociais.
“Nós vamos ganhar essa luta. O senhor está entendendo? Cuidado, hein? O povo brasileiro é maior do que a Suprema Corte, está bom? Você não vai ganhar o nosso país. Foge (sic)!”, garantiu. Barroso, então, respondeu: “Não seja grosseira, senhora”.
Antes, no início do vídeo, a mulher mostra o magistrado. “Como vai, senhor ministro?”, pergunta. “Muito bem, muito. Feliz pelo Brasil”, assegura ele. A gravação termina quando o magistrado entra em um estabelecimento comercial e fecha a porta.
Temer: Polarização é útil; radicalização, não
Componente do quadro de palestrantes do seminário do Grupo Lide, Michel Temer (MDB), ex-presidente da República, também foi recepcionado em clima de acirramento em um hotel. Vídeos mostram Temer chegando ao local em meio a palavrões e gritos de “ladrão”.
Chefe do poder Executivo entre 2016 e 2018, Temer lamentou a postura vista na cidade estadunidense.
“Polarização é útil, mas a radicalização, não. Lamentavelmente, isso ocorre neste instante, aqui em Nova York”, ressaltou, hoje, no início do evento do Lide.
Protestos mesmo após observadores ratificarem eleição
Em meio às hostilidades aos ministros do STF no hotel, os bolsonaristas cantaram o hino nacional e rezaram um Pai Nosso ao longo do dia. A oração foi pano de fundo para as críticas de Bolsonaro para Lula.
Uma mulher que se identificou como Maria afirmou que estava presente, enrolada numa bandeira brasileira, para “denunciar ao mundo a farsa” que teria ocorrido na eleição. Os manifestantes se apoiam em teses falsas de que o sistema eleitoral é fraudulento e que o TSE ajudou Lula.
As manifestações vão ao encontro de atos ocorridos no Brasil. Depois da eleição, estradas e vias públicas chegaram a ser fechadas — há, ainda, quem se concentre em frente a unidades do Exército pedindo amparo aos militares.
As alegações não encontram respaldo no que apontaram observadores eleitorais nacionais e internacionais. Enviados de instituições como a Organização dos Estados Americanos (OEA) não identificaram falhas no processo eleitoral.
Estado de Minas