A handout image released by 10 Downing Street, shows Britain’s Prime Minister Boris Johnson as he delivers a television address after returning to 10 Downing Street after being discharged from St Thomas’ Hospital, in central London on April 12, 2020. – British Prime Minister Boris Johnson was discharged from hospital on Sunday, a Downing Street spokesman said, a week after being admitted for treatment for coronavirus and spending three days in intensive care. “The PM has been discharged from hospital to continue his recovery, at Chequers,” the spokesman said, referring to the prime minister’s country estate outside London. (Photo by Pippa FOWLES / 10 Downing Street / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE – MANDATORY CREDIT “AFP PHOTO / 10 DOWNING STREET / PIPPA FOWLES” – NO MARKETING – NO ADVERTISING CAMPAIGNS – DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS
Boris Johnson, sob pressão insuportável depois de perder o apoio do Partido Conservador devido a uma série incessante de escândalos, renunciou nesta quinta-feira (7) como líder da formação, mas continuará como primeiro-ministro até a escolha do sucessor.
“É claramente a vontade da bancada parlamentar do Partido Conservador que deve haver um novo líder do partido e, portanto, um novo primeiro-ministro”, afirmou Johnson ao anunciar a renúncia em uma mensagem à nação diante do famoso número 10 de Downing Street.
O Partido Conservador deve escolher nos próximos meses um novo nome para substituir Johnson, provavelmente a partir de outubro, como seu líder e, por consequência, como chefe de Governo.
Ao mesmo tempo, o controverso Johnson se declarou determinado a continuar governando o país e, para deixar claro, nomeou novos ministros e secretários de Estado nesta quinta-feira para substituir o elevado número de integrantes que deixaram o governo.
Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, considerou a saída do primeiro-ministro uma “boa notícia”, mas não suficiente para sanar a crise.
“Precisamos de uma verdadeira mudança de governo”, disse Starmer, que considera a convocação de uma moção de censura contra o governo para precipitar a convocação de eleições gerais antecipadas.
Os acontecimentos se aceleraram esta manhã, depois dos pedidos de demissão de quase 60 membros do governo Johnson, em uma sangria incessante que começou na terça-feira com a saída de dois pesos pesados: os ministros das Finanças, Rishi Sunak, e da Saúde, Sajid Javid.
O novo ministro das Finanças, Nadhim Zahawi, nomeado ainda na terça-feira, uniu-se aos pedidos de renúncia do primeiro-ministro.
“Sabe em seu coração o que é o correto, saia agora”, escreveu em uma carta publicada no Twitter.
Michelle Donelan, nomeada na terça-feira para o ministério da Educação como sucessora Zahawi, apresentou o pedido de demissão apenas 48 horas depois de assumir a pasta.
“Um governo decente e responsável se baseia na honestidade, integridade e respeito mútuo”, afirmou o ministro para a Irlanda do Norte, o até agora leal Brandon Lewis, mais um a anunciar que pediu demissão.
“Lamento profundamente ter que deixar o governo porque acredito que estes valores não são mais respeitados”, acrescentou.
Cercado por escândalos
Johnson conseguiu provocar o esquecimento por alguns meses dos múltiplos escândalos que o cercavam graças a sua ação determinada na ajuda à Ucrânia contra a invasão russa. O Kremlin afirmou nesta quinta-feira que deseja que “pessoas mais profissionais” cheguem ao poder no Reino Unido.
No início de junho, o primeiro-ministro sobreviveu a um voto de desconfiança do próprio partido, com o apoio de 211 dos 359 deputados conservadores, mas os 148 votos contra ele deixaram evidente o descontentamento interno. De acordo com a imprensa britânica, agora ele teria o apoio de apenas 65 deputados.
As regras do partido estabelecem que o procedimento não pode ser repetido durante 12 meses, mas muitos conservadores desejavam uma mudança para voltar a tentar a manobra contra Johnson.
Johnson está envolvido em polêmicas que vão do “partygate”, o escândalo das festas em Downing Street durante as restrições sanitárias, ao financiamento irregular da reforma da residência oficial, passando por acusações de clientelismo.
As renúncias de Javid e Sunak aconteceram poucas horas depois de Johnson apresentar desculpas pela enésima vez, ao admitir que cometeu um “erro” por ter nomeado para um cargo parlamentar importante Chris Pincher, um conservador que renunciou na semana passada e reconheceu ter apalpado, quando estava embriagado, dois homens, incluindo um deputado, em um clube privado do centro de Londres.
Depois de afirmar o contrário em um primeiro momento, Downing Street reconheceu na terça-feira que o primeiro-ministro havia sido informado em 2019 sobre acusações anteriores contra Pincher, mas havia “esquecido”.
Campeão eleitoral perdeu a magia
Grande vencedor das legislativas de dezembro de 2019, quando conseguiu a maioria conservadora mais importante em décadas com a promessa de concretizar o Brexit, o primeiro-ministro perdeu grande parte da popularidade.
As pesquisas mostram que a maioria dos britânicos o considera um “mentiroso”.
Johnson deve ser investigado por uma comissão parlamentar para determinar se enganou de maneira consciente os deputados quando, em dezembro, negou as festas que violaram as regras anticovid.
E o fato de ter afirmado que não sabia das acusações contra Pincher quando muitos alegaram o contrário e de ter reconhecido o “esquecimento” reforça as acusações de que o primeiro-ministro brinca com a verdade.
Derrotas eleitorais recentes, como a de 23 de junho em duas legislativas parciais, convenceram um número crescente de rebeldes dentro do Partido Conservador de que Johnson não pode mais liderar o partido nas eleições gerais previstas para 2024.
AFP