As comissões executivas do MDB e do Cidadania aprovaram, ontem, o nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS) como pré-candidata à Presidência da República do consórcio formado com o PSDB, autodenominado centro democrático. Em reuniões separadas, as duas legendas formaram ampla maioria para consolidar a tríplice aliança. No Cidadania, a adesão à parlamentar foi relativamente fácil, sem contestação dos diretórios regionais. Na reunião do MDB, representou perto de 90% do partido, segundo estimativa do presidente da sigla, Baleia Rossi (SP). Agora, as duas agremiações esperam uma definição no ninho tucano, dividido após uma ala retomar a bandeira da candidatura própria. Por causa do impasse, a cúpula do PSDB concordou em adiar a decisão para a semana que vem.
Simone Tebet mostrou força dentro da própria legenda. Dirigentes da maioria dos diretórios estaduais manifestaram apoio público à pré-candidata, com exceção de Alagoas, Ceará e Paraíba, as três unidades da Federação em que o MDB já se posicionou pelo apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O resultado do encontro, segundo Baleia Rossi, “apenas demonstra que há uma esmagadora maioria do MDB que defende a candidatura própria de Simone Tebet”, que tem “o desafio de unir o centro democrático”.
Algumas adesões foram comemoradas, ontem, como as declarações de apoio da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney, filha do ex-presidente José Sarney; e do senador pernambucano Jarbas Vasconcelos, além do ex-senador Romero Jucá (RR), que já foi um dos políticos mais influentes do partido e tenta se eleger ao Senado.
Rossi evitou criticar a dissidência dos caciques nordestinos que lideram o movimento pró-Lula no partido: os senadores Renan Calheiros (AL) e Veneziano Vital do Rêgo (PB) e o ex-senador Eunício Oliveira (CE). Dos três, apenas o parlamentar paraibano participou da reunião. Ele elogiou Tebet, disse que a acompanhará nas visitas que fizer ao estado, mas vai manter o apoio ao petista.
“Ela é minha colega, figura distintíssima, muito competente. Uma parlamentar experimentada, mas o fato de recepcioná-la não significa dizer que haverá alteração de rumos adotados pelo MDB local, que apoia convictamente o nome do presidente Lula”, disse Veneziano aos colegas da Comissão Executiva.
Sobre o adiamento da reunião da Executiva do PSDB, o presidente do MDB minimizou o movimento interno da ala tucana que quer retomar o debate sobre uma candidatura própria, que poderia minar o acordo que mantém de pé a terceira via. “Nós temos de demonstrar para o Brasil e para os brasileiros que há uma construção séria de uma alternativa aos polos que estão aí (Lula e o presidente Jair Bolsonaro)”, frisou.
De acordo com Rossi, o futuro plano de governo de Tebet está sendo gestado na Fundação Ulisses Guimarães, ligada ao partido, e será apresentado em breve. A coordenação desse trabalho está a cargo do ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto, com a colaboração de especialistas na área econômica, como Helena Landau.
Cidadania unido
Na mesma quadra do Lago Sul em que ocorreu o encontro emedebista, o Cidadania também reuniu sua Executiva para aprovar a indicação da senadora. “Com Simone Tebet, MDB, PSDB e Cidadania dão um passo concreto na direção da manutenção da democracia com um programa comum: projetar o Brasil do Século XXI”, declarou a sigla, em nota assinada pelo presidente Roberto Freire (SP). Nota, por sinal, recheada de críticas a Lula e, principalmente, a Bolsonaro.
Freire não se mostrou preocupado com a divisão no PSDB em relação ao apoio à terceira via. Para ele, “dificilmente vai prevalecer a ideia” de uma candidatura própria dos tucanos. “O que não vai acontecer é que um problema local impeça a unidade nacional”, sustentou. Apenas ele e a senadora Eliziane Gama (MA) participaram presencialmente. Os demais se apresentaram por videoconferência.
A divisão no PSDB não deve afetar a união com o Cidadania em uma federação partidária. A homologação do casamento político é esperada para os próximos dias, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “A gente espera que essa unidade se materialize nos próximos dias”, disse Eliziane Gama, que era cotada para vice na chapa de João Doria — ele desistiu da disputa na segunda-feira, por pressão da cúpula tucana.
Freire, porém, fez um alerta: se o PSDB abandonar o projeto da terceira via para lançar outro nome ao Planalto, o acordo com o Cidadania pode não prosperar. “Nem vou pensar nisso. Há uma pressão na sociedade (por uma alternativa à polarização)”, disse o dirigente.
Novidade na legislação eleitoral deste ano, a federação partidária obriga as agremiações federadas a seguirem unidas pelos próximos quatro anos.
Correio Braziliense