Em entrevista à Rádio Folha 96,7 FM, nesta quinta-feira (25), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, possível candidato à presidência da República em 2022, comentou sobre a gestão do Governo Federal na pandemia da Covid-19 e o agravamento da crise sanitária que superou a marca de 300 mil mortos no País, entre outros assuntos.
Em relação ao comitê de combate à Covid-19 anunciado pelo Presidente Jair Bolsonaro após reunião com representantes dos poderes da República, Mandetta disse que já havia tentado criar algo similar a essa medida quando era ministro e que essa decisão chega tardiamente. “Ela chega atrasada, chega na rasteira de 300 mil mortos que separam aqueles que lutaram pela vida e aqueles que são sócios da morte”, criticou.
O ex-ministro, que disse ter perdido um tio recentemente vítima da Covid-19, prestou solidariedade às famílias vitimadas pela doença. “Me somo a dor a todas as famílias que exigem o mínimo de bom senso e respeito. Respeito ao grave quadro social, às pessoas estão passando fome! O que mas dói é que não precisava ter sido assim. Já era pra gente pelo menos ter encaminhado a virada dessa página”, lamentou.
Comparando o Brasil a um “paciente mal cuidado”, cujo chefe de família resolveu trocar de médico em plena doença, Mandetta revelou que não deixou o cargo antes porque sabia da gravidade da pandemia. Ele criticou, ainda, as sucessivas mudanças no comando do Ministério da Saúde, sobretudo a nomeação de um militar, o general Eduardo Pazuello, em detrimento de um médico. “Foi um erro capital. Colocou um ministro com a missão de ser um não ministro da Saúde. Ele ficou ali sem equipe, trocando todas as pessoas das equipes técnicas”, lembrou.
Tratamento precoce
Em relação à insistência do governo em defender tratamento precoce contra a Covid-19 com remédios sem comprovação científica, apesar de serem desaconselhados pela ciência, Mandetta foi enfático ao questionar tal postura. “Falando de protocolos absurdos. Deu margem para as pessoas acharem que era apenas uma gripezinha. Não compraram vacinas, não fizeram testes – os testes apodreceram dentro dos amoxarifados do Ministério da Saúde”, disparou.
“Não tem medicamento para a cura, o mundo todo procura e uma parte da medicina decide falar que isso resolve”, disse o ex-ministro ao se referir à hidroxicloroquina. “Tem médico falando que a máscara não prescisa ser usada. É uma infantilidade da medicina desse momento. Agora estpa flertando com o xaropes e sprays milagrosos de Israel. O ministro que está aí tem uma chance de pelo menos colocar um parâmetro para a ética prevalecer”, cobrou.
Resposta à Paulo Guedes
Em resposta ao ministro Paulo Guedes, que afirmou que o Brasil está atrasado na busca por vacinas contra covid-19 desde a época que o Minstério da Saúde era comandado por Mandetta, no início da pandemia, o ex-ministro foi duro ao afirmar se tratar de uma mentira e “desonestidade intelectual”.
“A mentira para um ministro da Economia o torna incapaz, porque dali é que sai a credibilidade para atrair investimento”, apontou. Segundo ele, quando nos meses de julho e agosto, chegaram propostas de compra de vacina pelos laboratórios da Pfizer e do Instituto Butantan, Guedes “estava com R$ 1,8 trilhão, todo o orçamento do país no seu bolso”.
“A negligência, a mentira e a falta de transparência, isso a história vai deixar muito claro. Toda semana eles me colcoam, me chamam. É mais um joguete perverso e cruel dessa crônica de horrores”, disse.
Solução para a crise
Mandetta não mediu palavras na entrevista para dizer que o governo Bolsonaro “quebrou o SUS no meio e jogou as pessoas contra governadores e prefeitos e esse paciente (o Brasil)está agora na fila do CTI (Centro de Terapia Intensiva). Um país que não tinha máscara e em risco de colapso por coisas básicas”, criticou.
Para mandetta, não há outro caminho a não ser a soma de esforços para conter a pandemia. “A unica solução é entendimento, união e mudança de comportamento”, cravou.
Lockdown
Sobre a necessidade de se decretar um lockdaown nacional como medida mais efetiva de isolamento social, Mandetta ponderou que as características geográficas do país fazem essa decisão precisar levar em conta as demandas dos entes federados. “É muito dificil pra um país ter medida continental, isso é de cada ente do país essa avaliação. Para isso é que a gente tem um pacto federativo espelhado no sistema de saúde”, ponderou.
“Nós estamos flertando com o colapso e cada governador e cada prefeito sabe o quanto eles aguentam e essa medida tem que ser usada para evitar um mal maior. Não é uma medida de decisão nacional”, avaliou, dando um recado direto a Bolsonaro. “Não faça essa lógca de jogar o governo contra os governadores e contra os prefeitos. “Estamos perdidos em tratamento, em protocolo, população fazendo automedicação generalizada”, alertou.
Vacinação
Em defesa do fortalecimento do SUS e da expertise de vacinação do sistema de saúde brasileiro, Mandetta lembrou que o país já vacinou em massa com muita rapidez em outras ocasiões. “Já tivemos campanha de vacinar de 8 a 10 milhões de pessoas em um dia. Mas como atrasou demais a compra – não comprou em agosto e poderíamo começar a vacinar em novembro, como comprou agora, a maioria das doses chega em julho, agosto e setembro. Falta foco, disciplina e ciência”, avaliou.
“São 43 mil equipes no brasil que cobrem 150 milhões de brasileiros. Nós temos uma Ferrari, tem que botar gasolina no tanque. Se colcoar as unidades de saúde do SUS abastecidas com vacina, as pessoas vão”, disse o ex-ministro.
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