People walk at Saara market under a Brazilian flag in downtown Rio de Janeiro, Brazil, on December 08, 2020 amid the coronavirus (COVID-19) pandemic. (Photo by MAURO PIMENTEL / AFP)
No início da pandemia do novo coronavírus, há um ano, a rotina dos brasileiros sofreu um enorme impacto, seja por conta das medidas de contenção da Covid-19, pelo isolamento ou até mesmo pelo medo enfrentado quando é preciso sair de casa. Para a grande maioria (74%), a pandemia está se agravando no país. A conclusão é da pesquisa divulgada pela Federação Brasileira do Bancos (Febraban) e pelo Instituto de Pesquisas Sociais e Políticas (Ipespe).
Com a intenção de medir as expectativas sobre a volta da normalidade e o sentimento da população neste começo de 2021, o levantamento foi realizado por meio de uma pesquisa on-line, com a participação de 3 mil pessoas com mais de 18 anos, em todas as regiões do país, entre os períodos de 1° a 7 de março.
Segundo o estudo, 16% dos entrevistados acreditam que a pandemia está estável e 9% esperam por uma melhora. Entre aqueles que mais observam uma piora está o estudante de comunicação social João Silva, de 24 anos. Para ele, um dos maiores motivos do aumento da infecção foram as festas clandestinas e, também, a negligência das pessoas em relação ao isolamento.
“Houve uma piora significativa. Tudo isso, observo, por circunstâncias do próprio povo, também por negligências como festas clandestinas e influências negativas, até mesmo do próprio presidente (Jair Bolsonaro). Nas redes sociais, as pessoas costumam postar fotos em festas, acredito que o número de óbitos somente tende a aumentar”, lamenta.
Um outro ponto bastante abordado na pesquisa foi o contraste no estilo de vida das pessoas no período em que antecede a pandemia e o atual, 73% das pessoas dizem que o comportamento atual da população mudou bastante em decorrência da pandemia. A rotina somente voltou em partes, acreditam 20% dos entrevistados; já o restante afirma que tudo voltou ao que era antes da Covid-19 (3%) ou que nada mudou (3%).
Para a servidora pública maranhense Ana Rocha, o que gerou bastante receio em meio à pandemia foi a possibilidade de contrair o vírus ou até mesmo contaminar outras pessoas. “Por isso, o isolamento se faz muito importante na vida da população. Eu tenho muitos medos, por exemplo, de sair e contrair o vírus, trazer para minha casa. Tenho grupos de risco que convivem comigo e também (tenho medo de) passar para outras pessoas. Espero que a volta da vida normal seja em muito breve, pois gostaria de poder sair sem ter o receio de passar por essas situações”, desabafa.
Nos últimos 12 meses, a Covid-19 se tornou bem próxima da população, pois, segundo a pesquisa, a maioria dos brasileiros possui algum parente ou familiar infectado; e mais da metade está de luto por ter perdido alguém em razão da doença. Sem contar os efeitos psicológicos causados pelo isolamento, uma das medidas que foram tomadas como forma de prevenção contra o novo vírus e que precisou ser reforçado no último mês por conta do aumento do número de casos e de óbitos em todo o paí. Na última terça-feira (16), o Brasil bateu recorde negativo ao registrar 1.841 mortes em 24 horas.
“Válvulas de escape”
Anibal Okamoto, psiquiatra e especialista em Pesquisa Clínica no Instituto Meraki Saúde Mental, avalia que em tempos de dores e perdas, que ocasionam sintomas como estresse mental e ansiedade, as pessoas têm buscado formas de gerenciar esses sentimentos.
“Com o agravamento da pandemia, observo que as pessoas têm cada vez mais procurado por válvulas de escape em meio às dificuldades. Por exemplo, vejo que esses fatores geraram um aumento no uso da internet, das mídias socias. Ocorrem modificações recorrentes dos horários, quebras da rotina, sintomas de insônia e ansiedade. Todos esses são exemplos considerados fugas da realidade se forem observados dentro contexto para aliviar o estresse”, explica o especialista.
Vacinação
Um outro cenário que se apresenta negativo para maioria dos pesquisados diz respeito à vacinação. Boa parte da população, quase 62%, acredita que a vacinação em massa somente acontecerá em 2022. Adelia Fulmian, professora de Valparaíso de Goiás (GO), é uma das pessoas que não veêm a hora para que a população retorne as atividades no pós-pandemia.
“Acredito que nem tudo voltará a ser como era, pois tudo mudou muito desde a chegada do novo vírus. Porém, mal posso esperar para que uma grande parcela da população esteja vacinada, pelo menos até o final do ano, e que possamos voltar às atividades normais, como, por exemplo, visitar familiares e amigos”.