Health workers from the city of Melgaco check a resident of a small riverside community in the southwest of Marajo Island, state of Para, Brazil, on June 9, 2020, amid concern over the spread of the COVID-19 coronavirus. (Photo by TARSO SARRAF / AFP)
A onda de interiorização de novas infecções pelo coronavírus acelerou nesta semana em várias regiões do país, coincidindo com a maior reabertura da economia. No estado de São Paulo, cidades como Campinas, Ribeirão Preto, Sorocaba e Barretos já não têm leitos de UTI ou estão perto do limite, segundo a Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira).
Na região Sul, sobretudo no Rio Grande do Sul e no Paraná, também houve aceleração de novos casos, situação agravada pelo aumento de outras síndromes gripais severas típicas da temporada de frio. No Centro-Oeste, além do registro de mais infecções no interior, as cidades satélites de Brasília, no Distrito Federal, registraram uma explosão de casos nas duas últimas semanas. Em Minas Gerais, Uberlândia, com 590 mil habitantes, já tem mais registros do que a capital Belo Horizonte, com 1,4 milhão de pessoas. Em outras cidades menores, a aceleração também ocorreu.
Algumas exceções nessa tendência têm sido registradas na região Norte e em alguns estados do Nordeste, embora haja muita ansiedade entre agentes de saúde com os resultados da reabertura econômica em curso. Em Pernambuco, por exemplo, o total de novos casos no interior já supera os da capital, onde as pessoas voltaram a circular mais livremente e se expor ao vírus.
Segundo médicos ouvidos pela reportagem, em questão de dias o aumento atual de infecções começará a refletir-se em mais mortes, já que há um hiato entre os novos casos e os óbitos. “Para os que estão dentro dos hospitais, é impressionante ver a falta de preocupação com que as pessoas estão circulando pelas ruas”, diz Suzana Margareth Lobo, presidente da Amib e chefe do centro de tratamento intensivo do Hospital de Base de São José do Rio Preto (SP).
Segundo ela, além de estarem com as UTIs praticamente lotadas, várias cidades do interior paulista sofrem com a exaustão de profissionais intensivistas. Em muitos casos, eles vêm sendo substituídos por pessoas sem treinamento para “pronar” pacientes –operação em que, mesmo intubados, eles precisam ser virados para facilitar a ventilação pulmonar.
No Paraná, depois de a taxa de ocupação de UTIs manter-se por meses entre 40% e 45%, a reabertura das atividades nas duas últimas semanas elevou a taxa de ocupação no SUS (Sistema Único de Saúde) para 85%. No interior, muitos pacientes vêm sendo transferidos entre cidades em busca de leitos vagos.
Segundo Mirella Oliveira, conselheira da Amib no estado e diretora clínica da UTI do Centro Hospitalar do Trabalhador em Curitiba, a capital também registrou um salto de novas infecções. Em seu hospital, onde havia ociosidade há alguns dias, já não há vagas nos 60 leitos de UTI exclusivos para pacientes Covid -que devem ganham reforço de outras 28 unidades nos próximos dias. “Temos visto muitas festas clandestinas e pessoas em shoppings”, diz Oliveira. “O resultado é que tivemos dias dramáticos, chegando a contabilizar 15 internações em uma única noite.”
No Distrito Federal, as cidades satélites do entorno de Brasília também registraram uma explosão de casos após o fim das medidas de isolamento social. Segundo o médico Fernando Aires, os casos suspeitos de Covid-19 aumentaram 170% nas duas últimas semanas em sua unidade básica de saúde em Ceilândia, cidade com 400 mil habitantes. “Com a reabertura do comércio, ainda estamos longe do fim disso. Mas nossa atenção primária aqui está entrando em colapso”, diz Aires.
Em Samambaia, outra cidade satélite, as equipes da atenção básica que começavam a marcar outros tipos de consultas já consideram voltar atrás diante do aumento das infecções pela Covid-19.
Segundo o médico Rodrigo Lima, que atua com outras 60 pessoas em uma unidade de saúde em Samambaia, embora os registros oficiais tenham aumentado, a subnotificação de novos casos permanece elevada desde o início da epidemia.
Folhapress